Onde os rios Barigui e Tanguá cortam e fazem a divisa entre Curitiba e a cidade de Almirante Tamandaré, 25 famílias de trabalhadores catadores de materiais recicláveis vivem em condições precárias, sujeitas a repetidas enchentes, comuns na região nos meses de fevereiro e março - não por acaso, a comunidade leva o nome de Ilha. Sem local de trabalho para armazenagem e separação, os trabalhadores são obrigados a utilizar as próprias casas como depósito, o que torna crianças e adultos vulneráveis a doenças e obrigando a convivência permanente com o material. Os constantes alagamentos também provocaram a perda de grande parte do material reciclável coletado.
Diante do descaso do poder público, no dia 05 de março as famílias decidiram ocupar barracão próximo à comunidade, abandonado vinte anos, sem portões ou grades, que servia como ponto de uso de drogas e marginalidade. Informações de moradores apontam que o imóvel mobiliza vinte anos de dívidas de IPTU. A luta por melhores condições de trabalho e moradia tem apoio da Coopersol - Cooperativa Solidária de Reciclagem do Paraná, Assembleia Popular, Cefuria, Consulta Popular e Rede de Educação Cidadã – Recid.
Para transformar a estrutura abandonada em local de trabalho, catadores e militantes de organizações populares fizeram mutirão para a organização e limpeza do espaço. Quilos de entulhos foram retirados do barracão. Uma das salas tem sido utilizada para atividades culturais e oficinas para as crianças, realizadas por educadores apoiadores. As organizações envolvidas calculam que a iniciativa da ocupação irá beneficiar uma rede de 50 famílias de trabalhadores catadores da região do Tanguá.
A reação policial chegou rápido: no primeiro dia da ocupação a PM de Almirante Tamandaré ameaçou despejar as famílias caso não deixassem o barracão até o final da tarde. Em situações como essa, a experiência demonstra que o Estado busca uma primeira ameaça, no entanto, frente à exposição na imprensa e ao envolvimento de mais catadores nos trabalhos, a segunda abordagem policial resolveu aguardar o mandato de reintegração de posse, enquanto as famílias reformam a antiga fábrica.
(Brasil de Fato, 17/03/2011)