Informações reveladas pelo site WikiLeaks e publicadas pelo jornal britânico The Guardian mostram acusações e críticas de um deputado japonês à política nuclear do governo de seu país. Segundo o político, as autoridades do Japão encobriram casos de acidentes nucleares nos últimos anos, e maquiaram dados relacionados aos custos e problemas técnicos da indústria de energia no Japão.
As acusações trazidas à tona pelo WikiLeaks fazem parte de um documento emitido pelo consulado dos Estados Unidos no Japão. Os arquivos registram a conversa entre o deputado Taro Kono, membro do Partido Liberal-Democrata (o partido da situação, naquela época) e um grupo diplomático norte-americano durante um jantar em outubro de 2008.
Durante o evento, Kono emitiu severas críticas ao Ministério de Economia, Comércio e Indústria do Japão, bem como às empresas do setor de energia. Segundo o político, o ministério selecionava quais informações sobre a produção de energia nuclear seriam repassadas ao Parlamento. Informações que fossem contra os interesses econômicos eram omitidas.
O parlamentar falou ainda sobre o problema dos resíduos nucleares. Segundo ele, o Japão não possui um sistema de armazenamento permanente de material nuclear descartado. Ele ressalta que o país está sujeito a terremotos frequentes, e tem uma grande quantidade de depósitos de água em galerias subterrâneas. Por isso Kono questiona se haveria um lugar realmente seguro para armazenar resíduos "na Terra dos Vulcões", já que os terremotos poderiam fazer com que o material radioativo contaminasse as reservas de água.
Kono diz ainda que o ministério não se preocupou em modernizar a legislação do país com relação aos níveis de radiação. Segundo ele, os padrões de tolerância para a quantidade de radiação em alimentos não são atualizados desde o acidente em Chernobyl, em 1986.
O político falou ainda sobre a negligência do governo em procurar fontes alternativas de energia para reduzir a dependência do Japão das usinas nucleares. De acordo com Kono, o ministério desestimulou a elaboração de leis que incentivavam a produção de energia por vias alternativas. Ele explica que há um "potencial abundante de produção de energia eólica em Hokkaido que permanece subaproveitado porque companhias de energia elétrica alegam não haver condições de infraestrutura suficientes."
(Por Eduardo Tavares, Exame.com, 17/03/2011)