Luis Echávarri (Bilbao, 1949) dirige desde 1997 a Agência de Energia Nuclear da OCDE. Há dois anos candidatou-se à presidência do Organismo Internacional da Energia Atômica, mas perdeu para o candidato japonês. Engenheiro, entrou em 1975 na Westinghouse e desde então tem estado no mundo nuclear, também como conselheiro do Conselho de Segurança Nuclear espanhol. Fala de Paris por telefone e insiste em manter a prudência diante da informação instável: “O acidente não terminou”, insiste. Defende a gestão das autoridades japonesas após o terremoto e o tsunami que afetou a usina Fukushima I, mas não duvida em que será preciso tirar conclusões e “impor requisitos adicionais às nucleares”.
Eis a entrevista.
Como vê a situação nas nucleares japonesas?
O Japão vive uma situação caótica. Teve um terremoto e um tsunami muito importante, tem cidades arrasadas... Nesse sistema havia 23 centrais paradas e outras 10 pararam automaticamente com o terremoto. Tudo parecia funcionar corretamente, mas então chegou o tsunami e danificou equipamentos chaves.
Na central de Fukushima?
A situação vai mudando muito rapidamente. Houve duas explosões de hidrogênio nas plantas. Não são explosões nucleares, mas destruíram muros das plantas e afetaram os prédios de contenção, que protegem o núcleo da central. As autoridades estão tentando conseguir refrigeração suficiente no núcleo e jogar um pouco de vapor para fora a fim de manter a pressão dentro do núcleo.
O mais importante é que suporte essa contenção?
Manter a contenção intacta é fundamental para que não vazem mais produtos de fissão nuclear.
Estão refrigerando com água do mar. É uma decisão desesperada?
As decisões que tomaram seguem uma lógica de emergência. O mais importante é que suporte a contenção. As centrais estão perdidas.
Há confusão sobre se há ou não fusão no núcleo.
É importante que o núcleo não se funda, no sentido de que isso acrescentaria mais produtos de fissão. Mas é preciso entender a grande dificuldade que há para saber o que exatamente está acontecendo dentro do núcleo pela perda de instrumentação. A última informação de que dispomos não parece que indique a existência de isótopos que façam pensar em uma fusão do núcleo, mas isso pode mudar. O combustível estava perto de ser descoberto [ficar sem água ao redor, o que favorece a fusão do núcleo] em várias ocasiões. Não houve uma grande fusão, mas o acidente não terminou.
Quando se poderá dar por terminado?
Em uma semana estaremos melhor.
Emitiram radiação ao exterior para reduzir a pressão interior. Em que níveis?
Evidentemente que a radiação emitida está acima dos limites legais, mas não creio que tenha tido impacto direto sobre a saúde das pessoas. Quanto mais a nuvem se espalha, mais se dilui. Mas isso é com a informação de que dispomos. A prudência é fundamental e foi muito importante evacuar a população em um raio de 20 quilômetros.
Os ecologistas criticam há anos este tipo de centrais por sua escassa resistência a um evento deste tipo.
Isto não é um acidente nuclear produzido por uma má estrutura ou por uma má gestão, mas por um terremoto que tira a rede elétrica e um tsunami que prejudica a refrigeração de emergência. Mesmo assim, no começo, não se prejudicou o prédio de contenção e não há porque pensar que foi mal projetado.
Não teria bastado construir as centrais um pouco mais afastadas do nível do mar para evitar o impacto de um tsunami?
Deve-se fazer uma análise exaustiva para ver o que poderia ter evitado o acidente. Talvez 20 metros de altura tivesse evitado o problema, ou colocar os geradores a diesel de emergência em edifícios mais preparados. Será preciso impor exigências adicionais nas nucleares. Sistemas de emergência e de localização.
A Alemanha e outros Governos anunciaram que suspendem planos nucleares devido ao acidente.
Vivemos em uma cultura do imediato, é preciso tomar decisões já. Creio que é prematuro. É preciso fazer uma análise fria. Respeito a decisão dos países, mas qualquer decisão política hoje é precipitada. Tanto num sentido como noutro. Com o passar do tempo, creio que os países decidirão em função dos recursos energéticos globais e disponíveis em cada um.
Inicialmente foi qualificado como acidente de nível 4 em uma escala de 0 a 7. Acredita que pode ser revisado para cima?
Não seria de estranhar que o elevassem para cinco, mas duvido que o baixem para três.
(R. Méndez, El País, tradução é do Cepat, IHU-Unisinos, 16/03/2011)