A tragédia nuclear nas usinas do Japão tem preocupado os moradores da região Costa Verde, principalmente os angrenses. Muitos temem que um dia o mesmo fato ocorrido no Japão, possa acontecer com as usinas Angra 1 e 2.
- Se tratando de energia nuclear os cientistas parecem entender muito, mas no final das contas nunca sabem o que fazer em caso de algum acidente muito sério. Se já nos assustamos com o que vem acontecendo lá no outro lado do mundo, imagine se fosse bem perto de nós, como nas usinas Angra 1 e 2 - destacou a moradora da Vila Histórica de Mambucaba, Raquel Nunes.
O professor Antônio José de Braguino mora há 40 anos no bairro Frade, local próximos as usinas de Angra. Preocupado com o risco de contaminação nuclear, ele ressalta que em caso de acidente os moradores das comunidades próximas nem teriam chance de escapar.
- Por mais que as autoridades façam exercícios de simulação, chegam em um certo ponto que eles não sabem o que fazer. Como estão fazendo no Japão, que uma hora pedem para a população sair, e outra para ficar dentro de casa. Se lá, eles que são um país muito mais evoluído, não estão conseguindo se organizar, nem quero pensar como seria em Angra dos Reis. Todos os moradores no alcance da contaminação não teriam nem escapatória. Essa é a verdade - ressaltou o morador.
Segundo o físico Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe/UFRJ, o tipo de reator da usina japonesa tem diferenças do modelo brasileiro.
- Nosso sistema apresenta vantagens, mas tem a proximidade do mar. Uma tsunami não é provável, mas estamos vulneráveis - afirmou ele.
O risco de vazamento de radiação não está relacionado somente a abalos sísmicos e tsunamis. Falha no núcleo do reator é uma das hipóteses. Atentados terroristas e a queda de um avião também não são descartados. Mecanismos de proteção existem para evitar vazamento, mas, em caso extremo, o risco maior é para quem vive num raio de cinco quilômetros, o equivalente a 20 mil moradores de Angra.
A contaminação mais grave, que atingisse de 10 a 12 quilômetros, afetaria 80 mil. O risco de atingir o Centro de Angra, aventado por ambientalistas, mas negado pelas autoridades, comprometeria a segurança de 180 mil moradores.
O presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Frade, Evandro Vieira, destaca que toda vez que surge o assunto acidente nuclear, os moradores ficam apavorados.
- No caso de um vazamento numa das usinas temos poucas opções de saída para fugir. Uma das rotas de fuga seria a Rodovia Rio-Santos, que está em péssimas condições de manutenção e cheia de buracos. Então é obvio que devemos ficar preocupados mesmo - disse o presidente.
A Eletronuclear Eletrobrás, responsável pelas usinas Angra 1 e 2, informou que a região tem baixo risco de terremotos ou tsunamis. Além disso, a empresa alega que as estruturas suportariam abalo até de grande magnitude.
(Diário do Vale, 15/03/2011)