Ronaldo Mathias, professor de Cultura Afro-Ameríndia do Centro Universitário Belas Artes, defende o ensino da disciplina no País e enfatiza que é importante quebrar paradigmas em relação à visão que o povo brasileiro tem às raças não brancas que ajudaram na formação miscigenada do País.
Em entrevista ao Estadão.edu, o docente conta que sua disciplina, aplicada desde 2006, contribuiu também para rever a forma de abordar temas polêmicos, exemplo política de cotas, além de ter demonstrado que grande parte dos alunos não se veem preconceituosos, porém identificam isso na sociedade brasileira. Ele aponta que isso pode ser um fator gerado ou pela ausência de autocrítica sobre a dinâmica do preconceito, do racismo, ou por algum outro fator ligado ao encaminhamento metodológico ainda não identificado.
Qual a importância de ser ter uma disciplina específica sobre cultura negra e indígena?
A disciplina foi criada em decorrência da lei 11.465/08, que altera a lei de Diretrizes e Bases (LDB) e coloca nos currículos das escolas, públicas e particulares, a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura dos povos indígenas no Brasil como já havia ocorrido com a Ensino da Historia da Cultura Africana decorrente da Lei nº 10.639/2003. O conteúdo da disciplina visa corrigir as visões distorcidas sobre a cultura indígena e africana criadas desde o período da colonização brasileira.
Estes conteúdos já não eram abordados dentro dos programas de Sociologia, Antropologia dos cursos de Comunicação Social? O que muda?
Os conteúdos em parte já têm sido trabalhados nessas disciplinas, mas o enfoque crítico ao eurocentrismo bem como o resgate da memória desses povos é inovador.
Qual o objetivo do curso?
Propor novos olhares sobre a história dos povos indígenas e africanos, desconstruindo os estereótipos, a visão ainda romântica e congelada que muitos brasileiros têm desses grupos.
Como a sociedade indígena influenciou a atual sociedade contemporânea brasileira?
Influenciou na alimentação, no artesanato, na língua, nos costumes etc.
Como é possível desconstruir estereótipos?
Estereótipos se desconstroem com informação, com conhecimento da memória de um grupo e com a criação de oportunidades iguais de acesso aos bens culturais de uma sociedade. (acesso a cultura, lazer, conhecimento, tecnologias etc)
O curso aborda quais assuntos contemporâneos ligados ao tema?
O Curso aborda os seguintes temas:
- Colonização, escravidão e racismo
- Multiculturalismo
- História dos povos africanos e indígenas
- Estatuto da igualdade racial
- Identidade cultural
- Mídia e preconceito
Como os alunos reagem inicialmente? Essa postura muda ao longo do curso?
Em princípio é comum que alguns alunos estranhem a proposta e a abordagem, em função do autoritarismo e racismo que ainda permanecem em nossa sociedade, mas com o passar do tempo compreendem o sentido do estudo dessas culturas para a formação pessoal e profissional.
(Por Felipe Mortara, Estadão.edu, 14/03/2011)