Apesar das dificuldades, empresas precisam incrementar exportação.A indústria de plásticos do Brasil conta aproximadamente com 11.400 empresas responsáveis por 12% do PIB industrial brasileiro. O Rio Grande do Sul representa apenas cerca de 8% do setor nacional, mas as empresas gaúchas esperam um crescimento nessa participação. Nesta entrevista, o presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Rio Grande do Sul (Sinplast), Alfredo Schmitt, fala sobre as resultados do setor, os desafios para a produção de plástico no Estado e no País e comenta as campanhas contra o uso de sacolas plásticas em supermercados.
JC Empresas & Negócios - Como foram os resultados do setor plástico gaúcho em 2010?
Alfredo Schmitt - No ano passado, em comparação com 2009, as empresas cresceram 9% em faturamento no Estado, chegando a R$ 4,589 bilhões. No mesmo período, o consumo de resinas cresceu 12%, alcançando 544 mil toneladas, e empregamos 28.869 pessoas, um aumento de 6% no número de postos de trabalho. Esses resultados positivos foram causados por três fatores. O primeiro é a recuperação dos efeitos da crise econômica de 2008. Além disso, o aumento da renda da população gera mais consumo de produtos, e a maioria deles possui peças de plástico ou utilizam embalagens plásticas. Finalmente, as safras agrícolas foram boas, incentivando o consumo de fertilizantes e outros produtos, que também usam embalagens.
Empresas & Negócios - Apesar dos números positivos, o setor enfrentou um déficit de US$ 1,35 bilhão em 2010, uma alta de 47,86% em relação ao ano anterior. Por que isso está ocorrendo?
Schmitt - Ele é devido a alguns fatores importantes, como a crise internacional, que obriga empresas estrangeiras a vender mais a poucos mercados seguros, como o Brasil. Além disso, temos falta de competitividade em preços, causada tanto pelo câmbio como pelos nossos altos custos de produção, como o preço da energia elétrica, mão de obra cara, problemas de logística. No entanto, apesar dessas dificuldades, as empresas precisam buscar incrementar sua exportação.
Empresas & Negócios - De que forma o Sinplast está buscando soluções para reduzir esse déficit comercial?
Schmitt - Apresentamos uma proposta ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Na Europa e nos Estados Unidos, as empresas que exportam precisam ter um comerciante legal que seja responsável judicialmente pelos produtos que lá entram. Aqui no Brasil não existe essa obrigação. Queremos que o governo crie um sistema semelhante, onde quem quiser vender para cá seja responsabilizado se houver problemas. Também buscamos um incremento nos benefícios aos exportadores. A indústria plástica hoje utiliza o sistema de vendas internas para exportação (Vipe), onde compramos resinas a preços especiais para exportação. Nós sugerimos a criação de um "Viepe", vendas internas de energia para exportação. Assim, uma empresa poderia ter uma redução no preço pago pela energia consumida de acordo com a quantidade de sua produção exportada.
Empresas & Negócios - Também são esperados benefícios para o setor no Rio Grande do Sul?
Schmitt - Estamos preparando um programa, que deve ser entregue ao governo ainda em março, para que possamos aumentar nossa participação no cenário da transformação de plástico no Brasil. Isso não pode ser relacionado apenas com incentivos, mas também com o oferecimento de condições para podermos concorrer com outros estados. Hoje temos entre 8% de participação no setor de plástico brasileiro, mas queremos aumentar isso.
Empresas & Negócios - E quais são as perspectivas para 2011?
Schmitt - Até o final de janeiro havia uma expectativa de 6% de crescimento. Acho que vamos ter crescimento importante na área agrícola e de alimentos, e isso se traduz em maior uso de embalagens. Sempre que o campo vai bem, o Estado colhe um desenvolvimento diferenciado. Espero que possamos manter isso, mesmo com as adversidades.
Empresas & Negócios - Uma dessas adversidades seria o aumento dos preços das resinas termoplásticas? Entre o início de dezembro e o Carnaval elas já haviam subido cerca de 20%.
Schmitt - Por conta dos problemas do Oriente Médio, o preço da nafta, matéria-prima básica para produção de resinas, já chegou a US$ 900,00 por tonelada. Somente esse efeito já vai ser responsável no reajuste do preço da matéria-prima. Por isso acredito que todos os setores têm que concentrar esforços na discussão do preço da nafta no Brasil. Não é possível que um país que saiu da condição de importador de petróleo para exportador tenha a nafta com um dos preços mais caros do mundo. Entendo que é importante que a Petrobras remunere seus acionistas, mas não está de acordo com o que se busca para a indústria de transformação de plástico no Brasil.
Empresas & Negócios - Com a compra da Quattor, a Braskem passa a deter praticamente 100% do mercado brasileiro de resinas. Quais as repercussões que podem acontecer no mercado?
Schmitt - Antes dessa aquisição, tínhamos no Brasil duas empresas com um mesmo acionista num percentual importante. Havia a Braskem, que tinha a Petrobras como fornecedor de matéria-prima e acionista com 30%. E também havia a Quattor, com a Petrobras como fornecedor e 40% das ações. Então essa nova situação não gera grande mudança no mercado. A grande beneficiada foi a Quattor, pois no momento em que houve incorporação ela era uma empresa quebrada, que estava trabalhando com eficiência operacional abaixo de 75%, o que no setor petroquímico é crítico. Com a união, ela conseguiu aumentar sua produtividade e oferecer ao mercado uma disponibilidade maior de resinas. Então o aspecto de abastecimento está tranquilo. O Cade autorizou a compra com uma série de restrições, que estão sendo ainda entendidas e digeridas. Além disso, ela precisa ter uma política adequada para o mercado interno, sob o risco de fazer com que as empresas que adquirem resinas aumentem muito a importação ou parem atividades e deixem de consumir.
Empresas & Negócios - A indústria plástica enfrenta críticas quanto ao uso dos sacos plásticos em supermercados. O governo federal criou a campanha Saco é um Saco para incentivar a redução do consumo de sacolas. Qual sua opinião sobre esse movimento?
Schmitt - Existe sobre esse tema uma desinformação generalizada. Quando as sacolas plásticas foram introduzidas no Brasil, havia três requisitos para sua adoção: que fossem leves, baratas e não provocassem desmatamento. Essas condições continuam até hoje. O que os mercados querem agora, na verdade, é poder lucrar com a sacola também. Ela é o único item que não é comercializado, mas dado ao consumidor. Além disso, 93% das famílias reutilizam as sacolas, principalmente como saco de lixo. Sem elas, como esse recolhimento vai ser feito?
Empresas & Negócios - As sacolas não são geradoras de poluição?
Schmitt - O problema da poluição não é do plástico em si, mas da educação da população. O plástico não tem pernas, asas. Se ele foi descartado em lugar errado alguém o colocou lá. Isso é apresentado pela própria campanha antissacolas. Em uma cena eles mostram uma pessoa que atira um saquinho pela janela de um ônibus. Ou seja, o lixo foi para a rua porque alguém jogou em lugar indevido. Ao invés de investir na educação, estão investindo em um paliativo.
Empresas & Negócios - As empresas não teriam que investir em reciclagem?
Schmitt - O setor incentiva tremendamente a reciclagem, e estamos apostando muito nas possibilidades da chamada "reciclagem energética". Isso significa construir usinas que utilizam os resíduos de lixo, especialmente o plástico, para criar energia, que são muito usadas no Japão e Alemanha. O lixo, quando usado como combustível, pode atender em média 30% do consumo de eletricidade de uma comunidade. Aqui na Região Metropolitana, por exemplo, poderíamos com isso criar energia suficiente para abastecer uma cidade inteira do porte de Cachoeirinha.
Empresas & Negócios - Os biopolímeros não seriam uma solução?
Schmitt - O tema do biopolímero está apenas começando a ser discutido. Hoje a produção mundial de polímeros biodegradáveis é da ordem de 72 mil toneladas. Mas só o Brasil, em 2010, consumiu 5,2 milhões de toneladas de resinas termoplásticas. Então a quantidade disponível atualmente é baixíssima e caríssima.
(Por Marcelo Beledeli, JC-RS, 14/03/2011)