A ameaça de catástrofe atômica no Japão reacendeu debate sobre energia nuclear na Alemanha. Ambientalistas e políticos pedem uma mudança na atual política atômica do governo. Cerca de 60 mil protestam no sul do país.
A ameaça de catástrofe atômica no Japão reacendeu um intenso debate sobre energia nuclear na Alemanha. Ambientalistas, políticos da oposição e até representantes de partidos conservadores pedem uma mudança da política nuclear da chanceler federal Angela Merkel. Devido à situação no Japão, a chefe de governo convocou para a noite deste sábado (12/03) uma reunião de emergência de seu gabinete.
A líder dos verdes no parlamento, Renate Künast, comentou que os acontecimentos no Japão mostram que "não dominamos a natureza e sim é ela que nos domina". Künast tachou mais uma vez de "equivocada" a decisão da coalizão de governo de prolongar o tempo útil dos reatores nucleares alemães.
O vice-líder dos social-democratas no parlamento alemão, Ulrich Kelber, afirmou, em entrevista ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung, que algumas usinas nucleares alemãs se encontram em áreas sujeitas a terremotos. Além disso, segundo ele, as cúpulas dos sete mais antigos reatores alemães não são suficientemente protegidas contra um ataque com avião de passageiros.
Conservadores também criticam
A situação no Japão serve para colocar em questão a prorrogação do funcionamento de usinas nucleares na Alemanha. Este é o ponto de vista do deputado Josef Goppel, da União Social Cristã (CSU), crítico da energia nuclear. "A pressão vai subir para que usinas nucleares mais antigas sejam desligadas", afirmou.
Ministro alemão Norbert Röttgen descarta consequências em seu paísBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Ministro alemão Norbert Röttgen descarta consequências em seu país
Integrantes de correntes contrárias à energia nuclear entre os democrata-cristãos se disseram insatisfeitos com a política do governo. "Estão permitindo que a indústria nuclear jogue roleta russa com as nossas vidas e com nosso futuro", comentou em um comunicado a Associação dos Democrata-Cristãos contra a Energia Nuclear (CDAK, na sigla em alemão).
Prorrogação controvertida
Em 2010, o governo de Angela Merkel decidiu prorrogar o funcionamento das usinas nucleares alemãs, modificando uma lei de 2002. A legislação anterior, posta em vigor pelo governo de Gerhard Schröder, previa a desativação gradual das usinas nucleares no país até 2022.
Pelos planos atuais, as centrais atômicas mais recentes, construídas após 1980, ganharam mais 14 anos de sobrevida, enquanto as mais antigas poderão permanecer ativas por mais oito anos.
O Ministério do Meio Ambiente da Alemanha afirmou na sexta-feira que as usinas alemãs estão protegidas contra eventuais terremotos. O ministro da pasta, Norbert Röttgen, também descartou que um acidente atômico no Japão possa representar perigo para os alemães. "Acreditamos que uma ameaça à Alemanha está praticamente fora de cogitação", afirmou. Röttgen justificou, afirmando que além da grande distância, há também os ventos, que levariam a radioatividade em direção ao Oceano Pacífico.
Reunião de emergência em Berlim
Devido aos acontecimentos dramáticos da usina nuclear japonesa de Fukushima, a chanceler Angela Merkel convocou para a noite deste sábado uma reunião de emergência com participação de membros de seu gabinete, além de um especialista em segurança de reatores nucleares.
Moradores dos arredores de Fukushima tiveram que se refugiar em abrigos improvisadosBildunterschrift: Moradores dos arredores de Fukushima tiveram que se refugiar em abrigos improvisados
Após o maior terremoto na história do Japão, várias usinas nucleares foram afetadas. Os maiores danos foram sofridos pela usina de Fukushima 1. O teto do prédio do reator desabou após uma explosão no sábado, e o seu núcleo está ameaçado de fundir-se, causando uma catástrofe de contaminação radioativa.
Corrente humana de 45 quilômetros
Os ambientalistas pedem o desligamento imediato de todas as usinas nucleares no mundo. O presidente da associação ambientalista alemã NABU, na sigla em alemão, Olaf Tschimpke, apelou para que o governo alemão desative imediatamente os reatores mais antigos. "A energia nuclear é irresponsável", declarou Jörg Hein, especialista do Greenpeace para o assunto.
Milhares de ambientalistas fizeram uma corrente humana de cerca de 45 quilômetros entre Stuttgart, no sul da Alemanha, e a usina nuclear de Neckarwestheim, para pedir o desligamento daquela usina e o fim da energia atômica no país.
A manifestação reuniu cerca de 60 mil pessoas, segundo os promotores do evento, que já tinha sido convocado antes dos acontecimentos no Japão. O reator de Neckarwestheim é um dos que deveriam ser fechados em breve, mas tiveram seu funcionamento prorrogado por decisão do governo federal.
(Deutsche Welle, 13/03/2011)