A cada ano, as margens do rio Jucu desaparecem, dando lugar a grandes plantios de eucalipto. O fato, denunciado pelo deputado José Esmeraldo (PR) na Assembleia Legislativa, deverá ser tema de um seminário que discutirá os impactos desta atividade para um dos mais importantes rios do Estado. Junto com o rio Santa Maria, o Jucu é responsável por abastecer a Grande Vitória, porém, se encontra em estado de avançada degradação.
O apelo feito por José Esmeraldo na Casa por inúmeras vezes foi ecoado e a promessa do vice-presidente da Comissão Permanente de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), é a de realizar um evento para discutir a questão.
Segundo Esmeraldo, a invasão de plantios de eucaliptos às margens dos rios está destruindo nascentes e deixando os mananciais desprotegidos, o que, em um futuro próximo, irá comprometer o abastecimento de água da Grande Vitória. De acordo com o parlamentar, o Rio Jucu diminuiu sua vazão em mais de 40% e, em menos de 10 anos, o capixaba vai sofrer as graves consequências.
O seminário, entretanto, ainda não tem data para acontecer, mas espera-se que ocorra em meados de abril. A intenção é que discuta também a proposta de Esmeraldo de cadastrar as nascentes capixabas para promover a sua proteção.
Além dos rios, o problema dos plantios de eucalipto também se estende às margens das lagoas e, segundo a denúncia feita pela Associação Barrense de Canoagem, esse plantio é feito, inclusive, com participação do governo do Estado e, portanto, sem a fiscalização do mesmo.
“É claro que é válido que falem sobre isso e, quanto mais, melhor. Porém, este assunto é mais complexo do que parece. O plantio da ex-Aracruz Celulose (Fibria), por exemplo, é dividido em três: o plantio dela, o Fomento Florestal e os sete milhões de pés que a empresa planta para a Secretaria de Estado de Agricultura (Seag)”, denunciou Eduardo Pignaton à época, que é presidente da Associação Barrense de Canoagem e há mais de 20 anos acompanha a luta pela despoluição do rio Jucu, em Vila Velha.
Ele alerta que os plantios feitos pela ex-Aracruz Celulose ultrapassam os limites permitidos por lei, entretanto, são utilizados para abastecer o governo do Estado, o que gera um conflito de interesses e prejuízo à população capixaba.
O resultado deste conflito, segundo o ambientalista, é a invasão deste monocultivo em áreas de extrema importância ambiental. Além do assoreamento, a proximidade dos eucaliptais aos recursos hídricos ou o seu plantio em áreas de declividade também gera a contaminação por agrotóxico destes recursos.
Sobre a manifestação do deputado José Esmeraldo na Assembléia Legislativa, Pignaton afirmou que, para que os recursos hídricos sejam de fato preservados no Estado, é preciso que os deputados atentem para o zoneamento ecológico, os planos de bacias e para outorgas concedidas a empreendimentos que sequer foram licenciados.
Informações da ex-Aracruz apontam que a empresa possui 210 mil hectares com eucaliptos plantados nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. Segundo a empresa, atualmente, o programa de fomento abrange 86 mil hectares distribuídos em 132 municípios do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 11/03/2011)