O problema está posto e é conhecido e admitido por todos. Os motoristas de Porto Alegre não sabem conviver de modo respeitoso com os pedestres e com quem se utiliza de outros meios de locomoção. O desafio que se apresenta para os gestores públicos é, pois, trabalhar incessantemente para que esse quadro seja alterado. E no menor tempo possível.
"Queremos dialogar sobre possibilidades que sejam ousadas, mas factíveis. Para mim, há uma prioridade absoluta, que é o pedestre. Depois vem a bicicleta, a moto e, por último, o carro", afirmou nesta quinta-feira o prefeito da Capital. José Fortunati participou da abertura da reunião entre órgão públicos municipais e representantes de ciclistas, ocorrida na sede da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Para o prefeito, é preciso mudar a cultura do motorista porto-alegrense. "O porto-alegrense, quando está na direção de um carro, se torna arrogante, prepotente e acha que tem preferência nos espaços urbanos. Temos de construir políticas públicas para mudar isso", afirmou.
No encontro, o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cap-pellari, admitiu que a empresa falhou em não criar ações para melhorar a relação entre carros e bicicletas. "Nunca tivemos esse trabalho até agora. Foi uma falha", observou. Já o secretário de Política e Governança Local, Cezar Busato, salientou a importância do debate sobre o tema. "A coisa mais importante hoje é a legitimação da bicicleta como uma alternativa de transporte que tem de ser respeitada. Como cidades, não podem, novamente, passar o vexame que passamos esses dias de ter um acidente como aquele na Cidade Baixa", ressaltou.
As atuais ciclovias da cidade foram criticadas na reunião. "Elas não são ciclovias, pois restringem o espaço do pedestre. Se o pedestre é obrigado a usar a ciclovia porque não tem outro espaço, não é ciclovia, é calçada", disse o usuário de bicicleta Igor Oliveira. A crítica foi corroborada pelo diretor da Federação Gaúcha de Ciclismo, Paulo Alves. "Na Diário de Notícias, a ciclovia tem três metros de largura e a calçada tem 1,5 metro. Como há mais pedestres do que ciclistas, eles invadem a ciclovia", enfatizou.
A intenção da prefeitura é criar um espaço permanente de diálogo com os usuários de bicicletas na cidade. Conforme Busato, a prefeitura deverá anunciar brevemente a criação de uma ciclovia na avenida Ipiranga com 9,4 quilômetros. Além disso, o orçamento municipal também já tem recursos previstos para a elaboração do projeto de ciclovia na avenida Sertório.
(Por Juliano Tatsch, JC-RS, 11/03/2011)