Uma equipe da Universidade de Berkeley, na Califórnia, espera revelar, em algumas semanas, a verdade definitiva sobre o aquecimento global. Coordenado pelo físico Richard Muller, o grupo trabalha no "projeto Terra", que promete ser o levantamento mais completo sobre a temperatura do planeta já feito até agora. E o mais importante: os pesquisadores garantem que são independentes, ou seja, não estão ligados nem aos céticos do clima, nem aos cientistas mais alarmistas. A informação é do jornal britânico The Guardian.
Muller já esteve envolvido em estudos sobre o Big Bang, já propôs uma nova teoria das eras glaciais, e fez descobertas sobre as crateras da Lua. No ano passado, ele começou a trabalhar no novo projeto, ao lado de equipe de acadêmicos escolhidos a dedo por suas habilidades.
O objetivo do projeto é simples. Partindo do zero, com novos instrumentos de informática e a maior quantidade de dados já usada em um estudo como esse, eles vão chegar a uma avaliação independente do aquecimento global. Tudo será disponibilizado gratuitamente em um site, segundo ele.
"Somos uma organização independente, não política, um grupo não partidário", afirmou o físico, em entrevista ao The Guardian. "Estamos fazendo isso porque é o projeto mais importante no mundo de hoje."
Muller está entrando em um campo minado. Já existem três grupos de peso que poderiam ser considerados os guardiões oficiais dos dados climáticos do planeta. Cada publica seus próprios números, que alimentam o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês). Um deles é o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa (agência espacial norte-americana), em Nova York. O outro é a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), também dos EUA. E o terceiro grupo, baseado no Reino Unido, é o Met Office.
Os números são diferentes porque cada grupo utiliza seu próprio conjunto de dados e faz sua própria análise, mas mostram uma tendência semelhante. Todos eles apontam para um aquecimento de cerca de 0,75° C em relação aos tempos pré-industriais.
Muller cita uma lista de motivos para o público ter perdido a confiança nesses dados. Para começar, diz ele, as tendências de aquecimento não são baseadas em todos os registros de temperatura disponíveis, portanto podem não ser tão representativos. Ele também critica a falta de transparência na ciência do clima e, por fim, o escândalo batizado como "Climagate", em 2009, fato que deu maior impulso ao projeto do pesquisador.
Um dos colegas de Muller na empreitada é Saul Perlmutter, físico de Berkeley que encontrou evidências de que o Universo está se expandindo a uma velocidade cada vez maior, devido à energia escura. Outros participantes do grupo são Art Rosenfeld, último aluno do físico Enrico Fermi, e o professor de estatística Brillinger David, já requisitado pela Nasa para calcular o risco de choque de detritos na Estação Espacial Internacional.
Alguns dos dados coletados até agora remontam a 1700 - o que faz Muller acreditar que este é o mais completo registro histórico de temperaturas terrestres já compilado. O resultado provavelmente se tornará um recurso inestimável para qualquer um que queira estudar mudanças climáticas. Até agora, a equipe reuniu registros de 39.340 estações individuais em todo o mundo.
(UOL, 03/03/2011)