Infelizmente, somos notícia mundial desde o triste episódio do atropelamento coletivo de ciclistas na Cidade Baixa.
Isto é péssimo para nossa imagem lá fora e também aqui. Já estivemos bem melhor posicionados na opinião pública, através de pautas positivas, como referência de cidade-berço do Fórum Social Mundial, por exemplo. Com certeza, não é como lugar sem espaço para expressões de liberdade que queremos ser vistos. Ou melhor, não é assim que queremos viver o nosso cotidiano, onde se acata que prevaleça o império do mais forte.
O acontecimento precisa ter tratamento exemplar. Quem investe contra e por cima de ciclistas com um veículo tem que ser preso e punido. O que houve foi muito grave; mas grave também é o silêncio de autoridades, que deveriam ter sido os primeiros a repudiar este ato hediondo.
Mas pasmo fiquei com declarações que ouvi na mídia por parte de alguns que detém o poder que este meio lhes dá, ao abrirem seus microfones para pessoas que repetiam, com outra roupagem, o dístico “estupra, mas não mata”. Não há justificativa aceitável para a covardia da tentativa de homicídio. Não bastasse o ato em si, há quem pretenda agora atribuir a culpa aos próprios ciclistas, em especial ao grupo Massa Crítica.
Mesmo que alguém – ou várias pessoas – tivesse afrontado o motorista, ou mesmo batido no carro, isto não lhe dá o direito de revidar com a arma mortífera que é um carro, investindo pelas costas contra pessoas indefesas. Mortes só não ocorreram, dizem, graças à hipótese de que Deus, além de ser brasileiro, pelo jeito também andar de bicicleta.
Vamos, cada vez mais, prosseguir em nossa luta pela paz no trânsito, contra a violência e pela civilidade.
Punição exemplar, portanto, aos que afrontam a civilização.
* Adeli Sell é vereador e presidente do PT/POA