(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
passivos da siderurgia danos ambientais
2011-03-01 | Tatianaf

O punhado de fragmentos metálicos que um manifestante tinha em suas mãos foi uma amostra da “chuva de prata” que nesse dia caiu sobre Santa Cruz e que representa um pesadelo ambiental para esse bairro da cidade do Rio de Janeiro desde que, segundo denunciam moradores, foi instalada uma siderúrgica alemã.

“Isto é uma prova de contaminação ambiental concreta”, disse o vereador Marcelo Freixo, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em referência às partículas de ferro-gusa, material fundido com base no ferro que constitui a matéria-prima para produzir aço. O vereador foi um dos manifestantes que protestaram, no dia 25, contra essa contaminação, diante da Secretaria Estadual de Ambiente (SEA) do Estado do Rio de Janeiro.

A chuva metálica é apenas um dos efeitos contaminantes da siderúrgica instalada em Santa Cruz, bairro da zona oeste da cidade do Rio, pertencente à empresa ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA). Os moradores do bairro, junto com organizações ambientalistas e sociais, querem impedir a licença ambiental definitiva para a empresa ThyssenKrupp Steel, a maior produtora de aço da Alemanha, que controla 73,13% das ações da TKCSA, enquanto a brasileira Vale tem o restante.

A contaminação atmosférica em Santa Cruz “é constante e em alguns dias é tão intensa que cai sobre os moradores uma chuva prateada que faz muito mal à saúde das pessoas, principalmente idosos e crianças”, disseram os denunciantes em um comunicado. Aurora, empregada doméstica e moradora do bairro, mostrou à IPS o que considera outra prova irrefutável do crime ambiental: um lenço sujo de sangue, com o qual diariamente limpa seu nariz irritado e ferido pela chuva “venenosa”.

Eliana Mesquita, também moradora de Santa Cruz, disse que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão oficial encarregado de investigar esse tipo de situação, ainda não comprovou o vínculo direto entre a contaminação atmosférica recente e os problemas de saúde denunciados. Entretanto, citou outros sinais prejudiciais para a saúde desde a instalação da siderúrgica, em junho de 2010, como irritações nos olhos, irritação e manchas vermelhas na pele, problemas respiratórios, ressecamento da mucosa nasal e dor de ouvido, entre os mais visíveis.

Alexandre Dias, professor e pesquisador da Fiocruz, não tem dúvidas de que a contaminação está afetando a saúde pública, com danos talvez irreparáveis. Acrescentou que, além da fuligem, existem outros fragmentos contaminantes que merecem estudos detalhados, como os emitidos pelo vento da carga que é transportada por trem em vagão aberto.

Em dezembro, o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou a TKCSA e seus diretores por contaminação da atmosfera em “níveis capazes de causar danos à saúde humana”. A denúncia se baseia em estudos do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro que comprovaram aumento de 600%, em média, na concentração de ferro na área de influência da siderúrgica, em relação ao período anterior ao começo de suas operações.

Os moradores de Santa Cruz também denunciaram outros danos ambientais como a contaminação da Baía de Sepetiba, que “está levando à miséria” oito mil famílias de pescadores artesanais. Jaci do Nascimento, um dos pescadores afetados e presente ao protesto, disse à IPS que antes da instalação da siderúrgica, em uma jornada de pesca conseguiam 203 caixas de 23 a 27 quilos. “Hoje, nos matando de trabalhar por 16 horas conseguimos apenas 17 quilos”, afirmou.

Em janeiro, a SMA assumiu o caso, anunciando a criação de uma auditoria independente. No entanto, os opositores da siderúrgica denunciaram que a empresa escolhida para fazê-la é do conglomerado mineiro-siderúrgico Usiminas, que, afirmam, tem sociedade com a Vale, sócia na TKCSA. No ano passado, a SEA anunciou multa contra a siderúrgica por emissão de um pó prateado, somada a outra de agosto equivalente a US$ 1 milhão.

A IPS tentou, durante o dia do protesto, conversar com a assessoria de imprensa da TKCSA, sem obter resposta por telefone ou e-mail. No entanto, em 26 de dezembro, a TKSCA informou em um comunicado que o problema da emissão de partículas metálicas se devia a um defeito em uma grua que, devido a um forte vento, arrastou o pó metálico para as comunidades vizinhas. Acrescentou que o problema havia sido corrigido. E destacou que “as estações de monitoramento de qualidade do ar indicam que não houve durante toda a duração do episódio nenhuma violação dos padrões legais”.

Marcelo Freixo disse à IPS que também preocupam as ameaças aos moradores envolvidos nas denúncias, um deles atualmente ao abrigo do sistema de proteção de testemunhas da Justiça. O vereador vinculou as ameaças às milícias, grupos armados que controlam negócios ilegais, que incluem ex-policiais e agem no Rio de Janeiro e em outros Estados. “Michele”, nome fictício por questão de segurança, assegurou à IPS que estas milícias participam da oferta de postos de trabalho na siderúrgica.

Funcionários da SEA que receberam uma comissão dos manifestantes contra a siderúrgica reiteraram, no mesmo dia 25, que a posição da Secretaria é que não dará uma licença definitiva à empresa se esta não cumprir as exigências ambientais. A publicação Monitor Mercantil destacou, quando a unidade foi inaugurada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se tratava do maior investimento privado no Brasil dos últimos 15 anos.

O capital investido foi de US$ 4,8 bilhões e a unidade produzirá cinco milhões de toneladas anuais de placas de aço, permitindo ao Brasil aumentar em 40% suas exportações siderúrgicas, além de somar US$ 1 bilhão à sua balança de pagamentos. Durante sua construção, empregou 30 mil trabalhadores e em sua fase operacional vai gerar 3.500 empregos, segundo a TKCSA. Para explicar porque não vão adiante as denúncias, Marcelo citou uma canção de Caetano Veloso, que diz “é a força do capital que ergue e destroi as coisas belas”.

(Por Fabiana Frayssinet, IPS, Envolverde, 28/2/011)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -