O desmatamento na Amazônia voltou a crescer, depois de um longo período de queda.E o pior é que os principais responsáveis não são os culpados usuais. Agora, o principal vetor de desmatamento são as grandes e inadequadas obras de infra-estrutura que o Governo Federal impõe teimosamente ao país.
O sistema DETER de alerta prévio de desmatamento do Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE- já havia detectado aumento do desmatamento na Amazônia, no final do ano passado, inclusive em estados tradicionalmente de menor pressão sobre a floresta como o Amazonas.
Agora é o Imazon, centro de pesquisas do Pará, que também analisa dados de satélite para medir desmatamento, que indica essa possível reversão de tendência, de queda para aumento do desmatamento.
Em dezembro de 2010 o desmatamento, pelos dados do Imazon, foi mais de 10 vezes maior que em dezembro de 2009. Em janeiro, ele foi 22% maior que em janeiro do ano anterior. No acumulado agosto-dezembro, ele foi 3% maior, comparado ao mesmo período de 2009. A degradação florestal quadruplicou no segundo semestre, comparado ao segundo semestre de 2009. É indicação de desmatamento futuro.
Tuítes de Adalberto Veríssimo – @betoverissimo – e Paulo Barreto – @paulogbarreto – ambos do Imazon, sugerem que o maior desmatamento em Rondônia, com Porto Velho liderando o ranking negativo dos municípios de maior desmatamento, é provavelmente efeito das hidrelétricas no Rio Madeira. Veríssimo atribui a queda no Pará ao programa “Carne Legal”, do Ministério Público Federal no estado e do governo do estado. Paulo Barreto concorda e lembra, também, os “pactos locais pela redução do desmatamento”, como o pacto pelo desmatamento zero em Paragominas.
O Imazon também identificou aumento das emissões associadas ao desmatamento na Amazônia.
Luz amarela ou vermelha? pergunta Adalberto Veríssimo no seu Twitter. Eu digo vermelha. De alerta máximo e de risco muito elevado, principalmente porque o grande vetor de desmatamento passou a ser o Governo Federal, com as hidrelétricas do rio Madeira, Belo Monte, no rio Xingú, e asfaltamento de rodovias que rasgam a Amazônia e facilitam a ocupação por novas ondas de pessoas em busca de áreas para explorar.
Eu diria que a campanha contra o código florestal, sem resposta incisiva do governo a favor da proteção das florestas, pode também estar estimulando o desmatamento de novo. A turma pode estar achando, com alguma razão, que o governo relaxou a política de repressão ao desmatamento ilegal.
Ainda pior, os dois centros, o INPE e o Imazon, alertam para o fato de que no final do ano havia nuvens espessas sobre grande parte da região, portanto esses dados de desmatamento e degradação podem estar subestimados.
(Por Sérgio Abranches, Ecopolítica, Envolverde, 24/02/2011)