Por trás de cadeias produtivas contaminadas por desmatamento ilegal, ocupação irregular de terras e até trabalho escravo estão grupos econômicos que atuam em setores estratégicos, como carne, soja e madeira. Ainda que mais de 70 empresas destes segmentos sejam hoje signatárias de pactos setoriais e estejam empenhadas em monitorar suas cadeias produtivas, os crimes continuam ocorrendo, sobretudo na região da Amazônia, e envolvendo gigantes como JBS Friboi, Cargill, Bunge, Louis Dreyfus, Carrefour e Wal-Mart.
A contaminação da cadeia produtiva é o principal alvo do relatório "Conexões Sustentáveis - Quem se beneficia com a destruição da Amazônia", que será lançado nesta quarta-feira, em São Paulo. O objetivo não é apontar culpados, explica Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil, uma das ONGs autoras do estudo, junto com a Papel Social. Ao levantar casos envolvendo fornecedores e varejistas, o estudo mostra que a cidade de São Paulo é a mais importante financiadora da devastação na Amazônia, por ser o principal mercado consumidor do país.
- Não há como divorciar a destruição desse bioma da dinâmica de funcionamento do maior centro urbano e produtivo do país - avalia Sakamoto, admitindo que "o envolvimento das empresas tem sido fundamental no combate a esses crimes".
Gigantes como Cargill e Louis Dreyfus, líderes do agronegócio, compraram soja de um produtor rural de Mato Grosso da "lista suja" do trabalho escravo, em 2010. A Louis Dreyfus informou, segundo consta do relatório, que a "aquisição da soja foi um caso pontual". A Cargill justificou que "deveria haver um bloqueio desse produtor no sistema, o que não ocorreu nesse caso, e que impediria a compra".
(Por Liana Melo, O Globo, 23/02/2011)