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poluição industrial
2011-02-23

A cidade de Cubatão, no litoral sul paulista, é sempre lembrada como uma das cidades mais poluídas do estado, devido à poluição lançada pelas fábricas localizadas em seu polo industrial. Para descobrir como isso tem afetado os espécimes da mata atlântica existente na região, o Centro de Capacitação de Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) da Escola Politécnica (Poli) da USP, está realizando desde abril de 2009 uma atividade de biomonitoramento na região, em conjunto com o Instituto de Botânica (IBT).

Um projeto similar já havia sido realizado no local entre os anos 1990 e 2000, com a mesma finalidade. O atual acabou surgindo por sugestão da Petrobras, que mantém uma refinaria na cidade – a usina termelétrica Euzébio Rocha – e solicitou uma análise atualizada do impacto dos poluentes na região. Segundo a pesquisadora Marisa Domingos, do IBT, o foco é avaliar a situação de risco atual, por meio da concentração de compostos de enxofre, nitrogênio e ozônio, além de compostos orgânicos e metais pesados.

Para realizar o biomonitoramento, a equipe faz uso de quatro espécies de plantas, com níveis diferentes de tolerância, que podem indicar a concentração dos poluentes. Duas delas são protocoladas internacionalmente como indicadoras para essa atividade: o azevém (Lolium multiflorum), um tipo de gramínea, e o tabaco (Nicotiana tabacum). A primeira consegue acumular boa parte dos poluentes do meio, enquanto a segunda é extremamente sensível ao ozônio – o que se traduz por meio de danos visíveis em suas folhas.

Já as outras duas, o manacá da serra (Tibouchina pulchra), que é nativo da mata atlântica, e a goiabeira (Psidium guajava) apresentam uma boa resistência aos poluentes. Contudo, a exposição a uma grande concentração de poluentes poderia causar alterações de crescimento e acúmulo de compostos, entre outros efeitos.

Procedimentos
As quatro plantas estão sendo colocadas em nove pontos de Cubatão: seis nas proximidades da refinaria da Petrobras, um na base da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) – localizada no centro da cidade-, um no próprio Cepema e outro no Parque Estadual da Serra do Mar. Marisa conta que este último ponto serve de referência ao demais, por estar numa área menos poluída – porém, não chega a funcionar como um grupo de controle, pois o local não é totalmente isento de poluição.

Em cada um desses pontos, as plantas são substituídas regularmente. O tabaco é mantido por 14 dias e o azevém, por 28. Já o manacá e a goiabeira são levados com cerca de 30 centímetros para os locais, e permanecem por 12 semanas. Nesse meio tempo, são feitas aferições para verificar as medidas de crescimento.

Marisa afirma ainda que as plantas, apesar de estarem em altitudes diferentes, foram posicionadas de forma a serem expostas aos mesmos tipo de solo e iluminação. Entretanto, efeitos climáticos, como secas e excesso de luz não puderam ser controlados.

Dessa forma, para dar respaldo ao monitoramento, foram introduzidos no Cepema dois conjuntos compostos por três câmaras abertas, com três metros de diâmetro cada, onde se poderia isolar o efeito dos poluentes e desconsiderar as condições climáticas. Em cada uma delas, foram colocadas as mesmas plantas. Em um conjunto, porém, injeta-se o ar do ambiente e no outro, o ar passa por um processo de filtragem.

De acordo com Marisa, a previsão é de que a pesquisa se estenda até abril de 2012. Apesar disso, já foram obtidos alguns resultados. Uma das conclusões mostra que a área não oferece um risco alto às espécies mais tolerantes – foi registrado um aumento da defesa no manacá, mas a espécie não apresentou diferença nas respostas fisiológicas. Além disso, também verificou-se uma tendência de menor acúmulo de compostos de nitrogênio em relação à pesquisa anterior, o que pode sugerir um aprimoramento tecnológico nos processos da refinaria da Petrobras.

Cepema
Criado em 2004, por meio de um convênio entre USP, Petrobras, Cetesb, Ministério Público e Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp), o Cepema tem o objetivo de buscar soluções e aplicações para problemas ambientais.

Com pesquisas e programas de pós-graduação, o Centro se destaca nas áreas de avaliação de emissões atmosféricas, reúso de água e minimização de efluentes líquidos e gerenciamento e tratamento de resíduos sólidos.

(Por Beatriz Amendola, USP Online/Agência USP de Notícias, EcoDebate, 23/02/2011)


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