Os objetivos mais citados dos investimentos internacionais das estatais chinesas de petróleo e gás são aumentar suas reservas, expandir a produção e diversificar suas fontes de abastecimento. Atualmente, as maiores compras são feitas na Arábia Saudita, Angola, Irã, Rússia, Sudão, Omã, Iraque, Kuwait, Líbia e Cazaquistão.
A voracidade com que a China tem consumido energia justifica o aumento da dependência do país por petróleo e gás importados. Em 2009 a produção doméstica chinesa de petróleo foi de 4 milhões de barris/dia, o que é o dobro da produção atual da Petrobras, maior empresa da América Latina. Mesmo assim, a produção não consegue atender à demanda interna desde 1993, quando o país se tornou importador líquido de petróleo. Em 2010, a China importou 4,8 milhões de barris por dia de petróleo bruto, 17,5% mais que em 2009, e nos próximos cinco anos deve responder por quase metade da demanda mundial por petróleo, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE).
O consumo de gás natural, que começou a ser importado apenas em 2006, sobe a cada ano. A China produziu 83 bilhões de metros cúbicos em 2009 - quantidade insuficiente para atender a demanda de 87,5 bilhões de metros cúbicos naquele ano. No primeiro semestre de 2010 a demanda cresceu 22% e deve chegar a 340 bilhões de metros cúbicos em 2020.
Os números mostram que não é por acaso que as estatais de petróleo chinesas têm hoje participação na produção de 20 dos 31 países onde operam, segundo a AIE, em associação com outras estatais e também empresas internacionais, como a BP e Total. A AIE mostra que as petroleiras chinesas estão se tornando empresas competitivas globalmente, sem no entanto estar claro ainda qual o compromisso delas com o suprimento do país. Nem toda a cota de produção chinesa em diversos países é enviada para a China, sendo vendida no mercado internacional.
A China deve chegar a 2030 importando o equivalente a 79% do seu consumo de petróleo bruto. Em 2010, as estatais chinesas investiram US$ 15,74 bilhões em empresas de petróleo da América Latina, segundo dados da AIE. O valor é um pouco menor do que todos os gastos em fusões e aquisições realizados por empresas chinesas em 2009, que somou US$ 18,2 bilhões, o que, segundo levantamento da AIE, representou 13% de todo o investimento (US$ 144 bilhões) com fusões e aquisições mundiais do setor naquele ano.
As estatais chinesas têm forte presença na África, Ásia e Oriente Médio. Em 2009 a China foi o destino de 52% da produção de petróleo (465 mil barris/dia) do Sudão. Da Venezuela foram importados entre 155 mil e 400 mil barris/dia no primeiro semestre de 2010, mas o volume vai aumentar quando ficar pronta uma refinaria da PetroChina (subsidiária da CNPC) capaz de processar petróleo venezuelano no sul da China.
O furacão chinês chegou na América Latina em março de 2010, quando a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) comprou 50% da Bridas Corporation, que tinha 40% da Pan American Energy, as duas maiores exportadoras de petróleo da Argentina, também com uma base de ativos na Bolívia e Ásia Central. Em novembro a CNOOC comprou da BP os outros 60% da Pan American.
A entrada da chinesa State Grid na transmissão de energia, pagando US$ 1,7 bilhão em maio do ano passado por sete empresas de transmissão reunidas na Plena Transmissoras ainda não foi totalmente compreendida. A operação foi recebida com preocupação por alguns empresários brasileiros, que temem a concorrência porque a empresa tem acesso a equipamentos mais baratos e financiamentos a taxas muito mais atraentes do que as que podem servir a empresas brasileiras. Até hoje não estão claros os planos da State Grid e se ela vai entrar no setor de geração de energia ou se manter na transmissão. A empresa fez vários contatos com a Eletrobras em busca de parcerias.
(Por Cláudia Schüffner, jornal Valor, IHU-Unisinos, 21/02/2011)