Em discurso no plenário da Assembléia Legislativa, o deputado estadual José Esmeraldo (PR) levantou uma questão que há anos é denunciada por ambientalistas do Estado: os plantios de eucalipto estão invadindo as margens dos rios, ocupando áreas de nascentes e destruindo lagoas. A denúncia, segundo o ambientalista Eduardo Pignaton, é antiga e não faz efeito. Isso porque, há participação do governo do Estado nos plantios.
Segundo o ambientalista, a tentativa de alertar para os problemas hídricos no Estado devido ao avanço do eucalipto é válida, mas precisa ser levada a fundo pelos parlamentares capixabas.
“É claro que é válido que falem sobre isso e, quanto mais, melhor. Porém, este assunto é mais complexo do que parece. O plantio da ex-Aracruz Celulose (Fibria), por exemplo, é dividido em três: o plantio dela, o Fomento Forestal para ela e os sete milhões de pés que a empresa planta para a Secretaria de Estado de Agricultura (Seag)”, denunciou Eduardo Pignaton, que é presidente da Associação Barrense de Canoagem e há mais de 20 anos acompanha a luta pela despoluição do rio Jucu, em Vila Velha.
Ele alerta que os plantios feitos pela ex-Aracruz Celulose ultrapassam os limites permitidos por lei, entretanto, são utilizados para abastecer o governo do Estado, o que gera um conflito de interesses e prejuízo à população capixaba.
O resultado deste conflito, segundo o ambientalista, é a invasão deste monocultivo em áreas de extrema importância ambiental. Além do assoreamento, a proximidade dos eucaliptais aos recursos hídricos ou o seu plantio em áreas de declividade também geram a contaminação por agrotóxico destes recursos.
“O problema disso tudo é que ficamos sem ter a quem reclamar. O Estado é abastecido por esta monocultura, que invade áreas ambientais. Ele incentiva as florestas plantadas pelos agricultores, mas o que abastece o grosso deste projeto são os eucaliptos, não a mata nativa”.
No rio Jucu, a informação é que os eucaliptos avançaram sobre as áreas de proteção ambiental no entorno dos recursos hídricos, destruindo nascentes de água e assoreando a região.
Em Marechal Floriano, região serrana, a situação também é grave, alertou Pignaton. O eucalipto vem sendo plantado em área de declive, onde não é permitido. Este plantio, além de comprometer áreas que deveriam ser preservadas, compromete também os recursos hídricos responsáveis em abastecer as propriedades da região. Em Santa Maria de Jetibá, o problema se repete. “No pé da Pedra do Garrafão está cheio de eucalipto”, enfatizou.
Sobre a manifestação do deputado José Esmeraldo na Assembléia Legislativa nesta semana, Pignaton afirmou que, para que os recursos hídricos sejam de fato preservados no Estado, é preciso que os deputados atentem para o zoneamento ecológico, os planos de bacias e para outorgas concedidas a empreendimentos que sequer foram licenciados.
Informações da ex-Aracruz apontam que a empresa possui 210 mil hectares com eucaliptos plantados nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. Segundo a empresa, atualmente o programa de fomento abrange também 86 mil hectares distribuídos em 132 municípios do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 20/02/2011)