Bob Dudley, diretor-executivo da BP, multinacional que opera no setor de energia, disse à revista Veja no dia sete de fevereiro que o etanol é o “melhor tipo de energia renovável”, por ser “mais barato, menos poluente e mais eficiente que o do milho”, produzido nos Estados Unidos.
De acordo com Dudley, “haverá, obviamente, um momento em que o petróleo se esgotará, e, com essa perspectiva no horizonte, utilizaremos cada vez mais fontes de energia renovável”. Hoje em dia, no Brasil, mais da metade dos automóveis já possuem motores flex, que aceitam tanto etanol quanto gasolina, e cerca de 80% dos novos carros produzidos possuem esse tipo de mecanismo. Até mesmo a Embraer, fabricante de aeronaves, passou a produzir pequenos aviões movidos a álcool.
Para o diretor-executivo da BP, o Brasil oferece uma vantagem em relação a outros produtores de álcool de cana, porque no país o clima e o solo são propícios para o cultivo da planta, e essas colheitas não rivalizam com as plantações destinadas à produção de alimentos, como acontece nos Estados Unidos, por exemplo.
“Isso já nos chamava atenção antes mesmo do pré-sal. De um bilhão de dólares que aplicamos todo ano em pesquisas sobre combustíveis renováveis no mundo, 400 milhões são destinados ao álcool brasileiro”, revelou. Dudley disse ainda que “o objetivo é desenvolver etanol celulósico (à base do bagaço da cana-de-açúcar) e, assim, criar um combustível ultra potente que possa revolucionar o mercado”.
Alimentos x Combustível
Já nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês) anunciou a aprovação do aumento nas porcentagens de álcool utilizadas na gasolina. O índice, que atualmente é de 10%, poderá chegar a 15% com a nova aprovação da EPA. Por lá, a notícia está causando grande polêmica, pois os benefícios e prejuízos da produção de etanol no país dividem população, empresas e entidades governamentais.
No aspecto ambiental, nem mesmo os órgãos especializados entram em consenso; se há os que, como a EPA, defendem que o álcool é menos poluente em relação à gasolina, há os que afirmam que o gasto energético na produção do etanol não compensa nem ambientalmente nem financeiramente.
Segundo o Laboratório Nacional de Energias Renováveis americano, o etanol extraído do milho gera 1,3 BTU de energia para cada BTU consumido na produção e no transporte desse álcool. Conforme um artigo publicado por Charles Hall, professor da Universidade Estadual de Nova York, para que um combustível possa ser considerado sustentável, o retorno do investimento energético deve ser de 5 para 1. O do etanol é de 1,3 para 1.
Além disso, os EUA enfrentam outro aspecto negativo gerado pela produção do etanol de milho. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês), o uso do milho na produção do álcool levou as reservas do item aos índices mais baixos dos últimos 15 anos. Como o artigo é usado em larga escala na indústria alimentícia, os preços do milho atingiram taxas quase tão altas quanto às da crise de 2008.
Imagem: União dos Produtores de Bioenergia (Udop)
(Por Jéssica Lipinski, Carbono Brasil, 14/02/2011)