A nascente do Sinos, em Caraá, no litoral norte, nem de longe lembra a poluição avistada no rio nas cidades mais abaixo, aqui na região. Ao longo do trecho de 190 quilômetros, as águas perdem a pureza e o rio se transforma no mais poluído da região metropolitana de Porto Alegre. Resultado da ação humana que, há várias décadas, contribui com lixo e esgosto doméstico e industrial. A série de reportagem que começa hoje aborda ações realizadas pelas cidades banhadas pelo Sinos e suas principais dificuldades.
Em Caraá, o começo do Sinos é repleto de obstáculos. Para chegar à queda d’água de 120 metros de altura, formada por vertentes que vêm do morro da localidade de Fraga, é necessário caminhar mais de uma hora e meia em mata fechada. O esforço para chegar onde jorra água cristalina recompensa pelo contato com a natureza.
Conscientização ecológica
O verão incrementa o fluxo de turistas. A prefeitura, os proprietários de pousadas e de campings montam estratégias para aproveitar o ecoturismo na nascente. "É uma excelente fonte de renda", reforça o prefeito de Caraá, Nei Pereira dos Santos. De acordo com a bióloga e coordenadora do Departamento do Meio Ambiente, Jordana Gomes, a trilha é estreita e cheia de obstáculos para dificultar o acesso. "Guias estão orientados a desenvolver turismo sustentável."
Ações de preservação são tratadas pelo Pró-Sinos
O Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos), formado, até o momento, por 22 dos 32 municípios que compõem a bacia, criou um grupo de trabalho para tratar das ações de preservação.
A próxima reunião dos integrantes está marcada para o dia 17 de fevereiro, quinta-feira, às 14 horas, em São Leopoldo. Os prefeitos que participam da diretoria pretendem avaliar as propostas no mês de março, antes de submetê-las à assembleia geral do Pró-Sinos.
Os prazos discutidos ainda são preliminares, mas estendem-se ao longo dos anos de 2011 e 2012. Pelo menos duas medidas devem ser imediatas: parar a ampliação do cultivo de arroz nos municípios e monitorar a água no Rio dos Sinos.
Há previsão de instalação de pelo menos dez pontos de acompanhamento em tempo real para facilitar as ações de controle e fiscalização de despejos clandestinos.
A Central de Monitoramento e Gerenciamento Integrado deve ser inaugurada no dia 17 de fevereiro e também vai centralizar as informações meteorológicas.
PROPOSTAS ESTUDADAS
Implantação da cobrança pelo uso da água e aplicação da arrecadação na recuperação ambiental
Montagem de uma equipe de peritos criminais ambientais
Credenciamento de laboratório para laudos oficiais reconhecidos pelo Estado
Cessação de qualquer ampliação de cultivo irrigado de arroz com captação direta de água do Rio dos Sinos ou afluentes
PROPOSTAS ESTUDADAS
Implantação da cobrança pelo uso da água e aplicação da arrecadação na recuperação ambiental
Montagem de uma equipe de peritos criminais ambientais
Credenciamento de laboratório para laudos oficiais reconhecidos pelo Estado
Cessação de qualquer ampliação de cultivo irrigado de arroz com captação direta de água do Rio dos Sinos ou afluentes
DICAS
Quer ir visitar a nascente do Sinos? Sempre vá acompanhado de um guia experiente e em grupos
Como a caminhada é demorada e desgastante, leve água potável para beber no caminho e lanche. Use roupas e sapatos confortáveis, protetor solar e repelente
Recolha todo o lixo que produzir
Licenciamento ambiental é novidade
Já em São Francisco de Paula, cidade que também integra a Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, para ter mais autonomia em relação às ações de preservação, foi criada a Secretaria Municipal de Proteção Ambiental. O município é habilitado a realizar o licenciamento ambiental e a fiscalizar o impacto local. Cidades sem essa autorização precisam recorrer à Fepam.
"Isso agiliza o trabalho", comenta a titular da pasta, a bióloga Giovana dos Reis Ghidini. O órgão conta com um veículo para realizar as visitas técnicas e uma empresa particular para assessorar em processos que exijam parecer técnico, elaboração de licenças ambientais, inspeção e vistoria externa.
Esgoto
Grande parte da poluição do Rio dos Sinos é provocada pelo despejo de esgoto cloacal. De acordo com o biólogo e mestre em Biologia e Ecologia da Unisinos Edson Martins dos Santos, o problema poderia ser evitado com a instalação de fossas sépticas e filtros em todas as residências. "É fácil de fazer e elimina 90% da matéria orgânica", defende.
Proteção
Plantações de arroz nas várzeas podem afetar a mata ciliar e resultar no desaparecimento de banhados, refúgios dos peixes para desovar. Já dá para ver a olho nu o desmate de alguns morros próximos à nascente. "É possível notar que parte da mata não é mais virgem. Algumas áreas foram desmatadas para o plantio de eucaliptos e de pinus", diz Santos.
De olho
O Departamento Municipal de Meio Ambiente de Caraá monitora as áreas reservadas ao plantio de pinus. "O macrozoneamento ambiental delimita uma zona de uso especial. O acompanhamento é feito por meio de laudos", explica a bióloga e coordenadora do setor, Jordana Borba Gomes. Já em relação às lavouras de arroz nas várzeas, os produtores precisam obedecer uma distância mínima de 30 metros, segundo legislação.
Convite ao ecoturismo
O biólogo Edson Martins dos Santos já perdeu as contas de quantas vezes fez a jornada à nascente do Sinos. "Toda vez que vou até a nascente, é como se espantasse os males. É um verdadeiro paraíso", diz Santos, que guia grupos de estudantes para desenvolver um trabalho de consciência ecológica. Pequenos sinais de agressão ao meio ambiente despertam a preocupação de ambientalistas. No caminho, é possível encontrar fogueiras e um pouco de lixo espalhado. "As pessoas devem tirar daqui o ar puro e um pouco de água para refrescar e matar a sede. Ao ir embora, que deixem apenas as pegadas", recomenda o biólogo.
SAIBA MAIS
As vertentes são formadas por correntes de água subterrânea que emergem na superfície.
Desde a nascente em Caraá até a foz, junto ao Delta do Jacuí, o Rio dos Sinos percorre cerca de 190 quilômetros
Para viajar de carro de Novo Hamburgo até Caraá, via RS-239, a distância aproximada é de 94 quilômetros e demora por cerca de uma hora e meia
É necessário estacionar o veículo em uma estrada e se embrenhar no mato
(Por Moacir Fritzen, Jornal VS, 14/02/2011)