Estacione o automóvel e venha conhecer a pé ou de bicicleta os segredos escondidos nos bosques de Monsanto, incluindo a grande diversidade de espécies animais e vegetais que povoam o parque florestal. Esta é a proposta da Câmara de Lisboa, que hoje lança um guia dedicado ao pulmão da cidade.
Ao longo de quase 170 páginas, este guia, que se segue a outro editado em 2009 sobre os parques, jardins e geomonumentos de Lisboa, dá a conhecer a história de Monsanto, a sua geomorfologia, clima e hidrologia, bem como a evolução da vegetação. Especial destaque têm também a flora, a fauna e os fungos existentes neste parque florestal, criado em 1934.
Segundo o vereador do Ambiente e Espaços Verdes da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, o objectivo fundamental do guia é promover "uma aproximação" dos cidadãos a este "património absolutamente extraordinário". Nesse sentido, esta publicação inclui um mapa que assinala os locais de referência, os caminhos de terra e ciclovias, as zonas de merendas, parques infantis, circuitos de manutenção, miradouros e equipamentos de restauração.
Nos capítulos consagrados à fauna e à flora não faltam fotografias e ilustrações que, como diz Sá Fernandes, permitirão a quem se aventurar por Monsanto usar esta informação para procurar e identificar as espécies com que se for cruzando. Seja de árvores, de arbustos ou subarbustos, de orquídeas, de aves, de mamíferos, répteis e anfíbios ou de cogumelos.
Menos 200 hectares
A coordenação editorial da obra é de David Travassos, que na introdução lembra que séculos de intensa ocupação agrícola tornaram a serra de Monsanto numa "paisagem praticamente despida de árvores". Uma realidade que, lembra o investigador auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, se alterou com a campanha de arborização iniciada em 1938, que permitiu criar o "mosaico de bosques contínuos com uma grande diversidade de espécies" que ainda conhecemos.
Essa arborização, recorda-se no guia, "não foi tarefa fácil". No capítu- lo consagrado à história do parque flo- restal explica-se a esse respeito que "o trabalho, quase todo manual, recorreu a mão-de-obra variada, desde trabalhadores rurais a soldados e prisioneiros do Forte de Monsanto".
Neste guia, David Travassos menciona ainda algumas das "dentadas" que o parque florestal sofreu, "sobretudo com a implantação de alguns bairros residenciais". Já o vereador Sá Fernandes sublinha que "as grandes dentadas foram há muito tempo" e garante que "o risco" de novas am- putações "não existe". Em 2009, quan- do o Governo determinou a suspensão do Plano Director Municipal para permitir a implantação de uma subestação eléctrica, a Associação dos Amigos e Utilizadores de Monsanto fez as contas e chegou à conclusão que já se tinham perdido cerca de 200 hectares da sua área inicial. Entre outras obras devido à construção da A5, da CRIL, da Radial de Benfica e do Pólo Universitário da Ajuda.
(Por Inês Boaventura, Jornal Público, 14/02/2011)