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2011-02-14 | Tatianaf

Desde que se começou a falar em mudanças climáticas uma das primeiras preocupações foi o impacto do aquecimento global para a produção de alimentos e como isso afetaria a vida das pessoas e a estabilidade política do planeta. Agora, parece que esse temor está cada vez mais uma realidade, com os fenômenos climáticos extremos ocupando um papel central nas crises de alimentos.   

Em 2010, a Rússia atravessou uma onda de calor sem precedentes que devastou sua produção de trigo e fez com que o país suspendesse suas exportações. No começo deste ano foi a vez da Austrália ser assolada pela maior enchente da história e também perder boa parte de sua safra.

Essas tragédias climáticas foram as principais explicações para o aumento do preço dos alimentos registrado em janeiro pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO em inglês). Segundo o  FAO Food Price Index, índice que mede os preços globais de alimentos, o primeiro mês de 2011 registrou o recorde histórico de alta.

Agora a entidade alerta que a situação pode ficar ainda pior se a seca que vem marcando o inverno chinês se prolongar.

“Apesar da atual seca ainda não ter afetado a produtividade do trigo, a situação pode ficar crítica se a primavera chegar e não trouxer chuvas ou se as temperaturas de fevereiro ficarem abaixo do normal”, afirma uma nota da FAO divulgada nesta semana.

Já em novembro de 2010, um relatório da entidade alertava que os eventos climáticos adversos eram os principais fatores para a queda da produção e para o consequente aumento dos preços.

“Eu acredito que estamos vendo os primeiros efeitos das mudanças climáticas na segurança alimentar. Se alguém me contasse que iria acontecer uma onda de calor na Rússia com temperaturas até seis graus acima da média, eu diria que era um absurdo. Isto é, mesmo se fossem apenas três graus já seria muito!”, explicou Lester Brown, fundador do Instituto de Políticas da Terra.

Além do clima, outros fatores estão sendo apontados como razões para que o mundo atravesse uma nova crise de alimentos: aumento da população, falta de água, uso de culturas para a produção de biocombustíveis, erosão/desertificação e a especulação nos mercados de commodities.

 “Apenas na Somália, os preços da água, por exemplo, subiram quase 300% nos últimos dois meses. Famílias estão vendendo seus pertences para poder dar o que beber e comer para seus filhos”, disse Chris Smoot, diretor do programa World Vision na Somália.

O aumento do preço dos alimentos pode ser responsabilizado como um dos principais motivadores para acirrar as tensões sociais. Na Somália, com seus 2,5 milhões de famintos, se o quadro não mudar é muito provável que o país caminhe para uma nova guerra civil. As revoltas populares na Tunísia e no Egito também têm como um de seus componentes a crise alimentar.

Para evitar que o mesmo ocorra com a China, o governo tomou uma série de medidas com o objetivo de salvar a produção de trigo. Entre elas estão o aumento da irrigação e a distribuição de um fundo de quase US$ 15 bilhões para ajudar os agricultores a financiar os custos do diesel, fertilizantes e pesticidas.

As províncias mais afetadas são Shandong, Jiangsu, Henan, Hebei e Shanxi, representando dois terços da produção nacional de trigo. De um total de 14 milhões de hectares, 5,16 milhões estão ameaçados.

Os próximos meses serão cruciais para definir o tamanho da crise alimentar que teremos que encarar. Além disso, se os anos que se seguirem confirmarem que os eventos climáticos extremos estão realmente mais frequentes, a situação que hoje chamamos de crise tem tudo para se tornar o padrão cotidiano.
 
(Por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais, EcoAgência, 14/02/2011)


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