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parques eólicos potencial eólico brasileiro
2011-02-10 | Tatianaf

O Brasil se tornou a bola da vez em energia eólica na visão das empresas que atuam no setor, posição detida pela Argentina no final dos anos 1990. Essa é a razão do desembarque das grandes empresas do segmento para disputar os leilões que vêm sendo promovidos pelo governo federal desde o final de 2009. “Todos querem encontrar a nova China e o Brasil está no topo da lista”, diz Steve Sawyer, secretário-geral da Global Wind Energy Council (GWEC).

A capacidade instalada de energia eólica no País era de 606 megawatts em 2009, segundo dados da GWEC, organização não governamental com sede em Bruxelas, na Bélgica, que trabalha pelo desenvolvimento do setor em todo o mundo. No ano passado, diz a entidade, foram acrescentados mais 326 megawatts à capacidade brasileira, elevando o total para cerca de 930 megawatts, quase metade do que está disponível em toda a América Latina.

O norte-americano Sawyer, secretário-geral da GWEC, está bastante otimista com o Brasil. Ele está em São Paulo para o “Wind Forum Brazil 2011”, que se realiza até amanhã. Em entrevista ao iG, disse que o Nordeste brasileiro tem uma das melhores condições climáticas para a geração de energia a vento.

“A taxa de geração de energia de uma turbina de um megawatt é aproximadamente 27% da capacidade plena, na média de diversas usinas no mundo, por ano. No Brasil, há locais em que essa taxa chega a 45% ou 50%. Pode-se dizer que os melhores locais estão no Ceará e no Rio Grande do Norte, com duas vezes mais capacidade de geração que a Alemanha”, conta o executivo.

O crescimento da economia e as condições climáticas têm atraído a atenção das maiores competidoras mundiais do setor, afirma. “O maior sinal é que, desde o leilão de dezembro de 2009, vimos Alston, Gamesa, GE, Siemens, Suzlon e LM Glass Fiber, os maiores integrantes desse setor, se comprometendo a investir.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

iG: América Latina já tem uma boa produção de energia eólica ou está em um estágio inicial?
Steve Sawyer: América Latina está num estágio inicial, com o Brasil na liderança, onde deveria estar, mas todos ainda no começo. Porém com o desenvolvimento nos últimos seis ou sete anos, principalmente nos últimos 12 a 18 meses, acho que a indústria no Brasil está entrando no seu caminho. Isso pelos acordos e anúncios do resultado do primeiro leilão de energia eólica ocorrido em 2009, do segundo, ocorrido no ano passado, e próximo que ocorrerá em junho. Investidores internacionais e empresas agora têm uma visão clara de como o mercado deve ser.

Os leilões e o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, do governo federal) garantiram contratos de investimentos na geração de 500 megawatts (MW), sem contar os próximos leilões que ocorrerão neste ano. E há o comprometimento do governo de que fará leilões de outro tanto a cada ano.

Porém penso que o maior sinal é que, desde o leilão de dezembro de 2009, vimos Alston, Gamesa, GE, Siemens, Suzlon e LM Glass Fiber, os maiores integrantes desse setor, se comprometendo a investir e os investimentos virão rápido, acredito.

iG: Quanto você calcula que eles irão investir?
Sawyer: Construir uma usina de geração eólica não requer um investimento enorme, algumas dezenas de milhões de dólares. Não é como uma usina siderúrgica ou algo assim. Mas o tamanho de cada usina, o que irão gerar em empregos e o que irão demandar de capital dependem do desenvolvimento do mercado. Por fim, todas essas grandes companhias têm de reconhecer que o Brasil será um mercado forte e que, pelos nossos cálculos, fará valer os investimentos.

iG: Há alguns anos tínhamos um mito de que os custos da energia eólica eram muito altos. Isso é verdade ou apenas um mito?
Sawyer: É o custo do aprendizado tecnológico. Cada vez que dobramos a capacidade total instalada em uma companhia, os custos tecnológicos caem em torno de 10%. Essa é uma boa teoria e, em geral, ela provavelmente é verdadeira. Mas não leva em conta uma série de coisas, como a baixa demanda das empresas de energia ou o preço das commodities.

O preço da tecnologia tem caído muito por conta do processo de produção, da eficiência que as geradoras têm conseguido. Tivemos um pico de custos em 2007, quando a indústria estava realmente no auge, a demanda estava muito maior que a capacidade, processo que foi interrompido com a quebra do Lehman Brothers (em 2008). Agora os preços voltaram a subir novamente.

iG: Você poderia nos dizer quanto custa uma turbina?
Sawyer: Varia muito, de acordo com o tipo de turbina, as condições de vento que ela deverá enfrentar e onde será fabricada, além de muitos outros fatores. Mas de acordo com a Bloomberg New Energy Finance (uma publicação especializada), do início desta semana, as instalações para cada megawatt de energia gerada estavam em cerca de US$ 1 milhão no ano passado, menos do que era necessário em 2005.

iG: Então estamos em uma boa época para investimentos...
Sawyer: Estamos em um momento muito bom e o Brasil, especificamente, porque há capacidade excedente de produção ao redor do mundo, o mercado tradicional para energia eólica nos Estados Unidos e na Europa está fraco, e o crescimento tem sido transferido nos últimos anos para a China, a Índia, outros países. A China já ficou grande demais hoje e dobra sua capacidade a cada ano. Por isso, principalmente os fabricantes europeus, estão desesperados para novos mercados. Todos querem encontrar a nova China e o Brasil está no topo da lista.

iG: Você já conhece nossas fazendas geradoras?
Sawyer: Algumas delas. Para mim, o Brasil tem uma das melhores condições de vento no mundo, particularmente na costa do Nordeste. Há vento muito forte em toda a costa, sem muitas turbulências, com poucas tempestades. Então está entre as melhores condições no mundo.

Há várias maneiras de medir o vento como fonte de energia. A taxa de geração de energia de uma turbina de um megawatt é aproximadamente 27% da capacidade plena por ano, na média de diversas usinas no mundo. Porque o vento sopra o tempo todo, mas nem sempre a turbina consegue chegar à sua capacidade total. No Brasil há locais em que essa taxa chega a 45% ou 50%. Pode-se dizer que os melhores locais estão no Ceará e no Rio Grande do Norte, com duas vezes mais capacidade de geração que na Alemanha.

iG: A produção de energia eólica do Brasil é significativa se comparada às outras fontes? O que você prevê para a produção do País?
Sawyer: Não sei exatamente, mas é menos de 1% do total das fontes. As previsões dependem de uma série de fatores, como quanto o Brasil continuará crescendo, se 5%, 6% ou 7%, como no último ano; quanto será a demanda para a energia elétrica e para a eólica e para a proveniente do gás e da biomassa; além de quanto será investido em cada uma delas.

Depende também de quando o País passará a cobrar pelas emissões de gás carbônico e qual será seu impacto no setor de energia. Vocês hoje não pagam pela emissão, mas passarão a pagar a partir de 2020, se não me engano, e isso trará efeitos nas decisões de investimentos.

Mas não vejo razão de o Brasil não alcançar em energia eólica de 15% a 20% de toda a capacidade de geração instalada até 2020, se as condições ajudarem, fornecendo de 8% a 10% de toda a energia elétrica. Mas isso depende de decisões políticas e de decisões de investimento.

iG: A Argentina também tem uma boa capacidade de geração eólica. O que houve com eles que perderam o passo?
Sawyer: No final dos anos 1990, a Argentina seria o lugar em termos de energia eólica na América Latina. É engraçado. Néstor Kirchner (1950-2010) era um grande torcedor para atrair investimentos para Santa Rosa e Patagônia. Seriam feitos os primeiros investimentos para construir nesses locais as primeiras fazendas de energia do País. Nós estávamos excitados porque ele acabou sendo eleito presidente. Porém, quando foi para Buenos Aires, ele esqueceu tudo sobre energia eólica, tudo sobre nós.

Depois disso, os argentinos tiveram a crise cambial, a crise econômica e uma série de problemas. No último ano, eles realizaram pela primeira vez um leilão de energia eólica. É um projeto pequeno, de 27 megawatts de geração, mas é o primeiro em aumento de capacidade de energia em muitos anos.

(Por Nelson Rocco, iG São Paulo, 09/02/2011)


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