A frequência com que o país vem sendo atormentado por enchentes, secas e ciclones está trazendo de volta os debates sobre medidas polêmicas que haviam sido arquivadas, como a criação de um cap-and-trade e de taxas de carbono
A Austrália é o maior exportador mundial de carvão e possui uma das maiores emissões de gases do efeito estufa per capita do planeta, fatores que explicam porque o país é sempre um dos mais relutantes em adotar qualquer tipo de política climática e costuma ser um obstáculo nas conferências do clima das Nações Unidas.
Foi preciso que eventos climáticos extremos afetassem a vida de milhões de australianos para que as autoridades despertassem para a necessidade de mudanças nos hábitos de consumo e de produção industrial.
O ano começou com a Austrália sendo varrida pela maior enchente da história, que causou bilhões em prejuízos. Antes disso, uma severa seca em 2010 resultou na queda expressiva da produção de cereais, o que elevou os preços dos alimentos em todo o mundo. Mais recentemente, na semana passada, um ciclone atormentou a costa do país.
Para avaliar o que está acontecendo com o clima na Austrália e quais são as perspectivas para o futuro, o conselheiro de mudanças climáticas do governo, Ross Garnaut, está preparando uma série de oito relatórios que devem ficar prontos até maio. O primeiro deles foi divulgado na semana passada e alerta que os fenômenos climáticos extremos ficarão mais intensos e frequentes.
“O que estamos vendo já são as consequências iniciais do aquecimento global. Se pensarmos que ainda estamos no começo desse processo, o futuro não parece nada promissor”, afirmou Garnaut.
Diante desse prognóstico, a Austrália está revendo questões que haviam sido dadas como arquivadas, como a criação de um mercado cap-and-trade e uma taxa para o carbono.
Segundo Garnaut, nos últimos anos os políticos estavam muito alinhados com as indústrias, mas agora devem contar com uma maior pressão popular para realizar as transformações que o país precisa.
“As tentativas de aprovação de leis climáticas no passado nos ensinaram que mexer com interesses econômicos sempre é difícil. Porém é hora dos políticos permanecerem independentes e evitarem ser seduzidos por lobbies”, explicou Garnaut.
O plano original para o mercado de carbono da Austrália chegou a propor o preço simbólico de AU$ 1 por tonelada de CO2 em sua fase inicial, mesmo assim não conseguiu ser aprovado e acabou engavetado.
Outra iniciativa que pode retornar é a de uma taxa interna de carbono, pela qual as indústrias pagariam um valor conforme a intensidade de carbono utilizada para produzir suas mercadorias.
Essas medidas já estão sendo analisadas e discutidas por autoridades, mas o mais provável é que elas só comecem a ganhar forma depois de maio, quando Garnaut deve finalizar seu último relatório para o governo.
Os estudos serão então analisados por um comitê multipartidário que decidirá qual o melhor caminho a ser adotado.
“Esperamos que os relatórios sejam o inicio de um importante diálogo com os 22 milhões de australianos para mostrar que existem benefícios econômicos e morais em se colocar um preço no carbono”, afirmou o parlamentar independente Rob Oakeshott.
Os ganhos econômicos com uma economia de baixas emissões são outra preocupação de Garnaut, que considera que a Austrália está ficando para trás na corrida pelas tecnologias limpas.
“Não temos mais o luxo de poder falar que vamos liderar o mundo rumo à sustentabilidade. Para ser bem sincero, agora temos é que alcançar as outras nações”, concluiu Garnaut.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 09/02/2011)