O aumento na frequência dos períodos de seca observados no leste da África ao longo dos últimos 20 anos deve continuar, à medida que as temperaturas globais aumentam. Um estudo da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (USGF) publicado na revista especializada Climate Dynamics indicou que 17,5 milhões de pessoas encontram-se sob o risco real de sofrer as consequências das mudanças climáticas no Quênia, na Etiópia e na Somália, países que já enfrentam uma grave crise de produção alimentícia. Reportagem de Paloma Oliveto, no Correio Braziliense e informações adicionais do EcoDebate.
A pesquisa, financiada pela universidade e pela Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional, tem como objetivo identificar áreas potencialmente ameaçadas pela seca e pela fome para criar programas não só de assistência direta (doação de alimentos), mas também de desenvolvimento agrícola e de conservação ambiental e de recursos hídricos. “Apesar de a seca ser uma das razões para a crise nos estoques de alimentos, o problema é exacerbado pela estagnação no desenvolvimento agrícola e no contínuo crescimento populacional”, disse ao Correio o coautor do estudo Chris Funk, cientista da USGF.
O aquecimento do Oceano Índico tem causado uma drástica diminuição de precipitações no leste africano, um fenômeno que, de acordo com a pesquisa, pode ser atribuído às mudanças climáticas. “Com base em predições do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês), sabemos que a temperatura global vai continuar a aumentar, e nós antecipamos que a média de chuvas no Quênia e na Etiópia vai continuar a diminuir ou, pelo menos, manter-se abaixo das médias históricas”, diz Funk. “A diminuição das precipitações no leste africano é mais pronunciada na estação de março a junho, quando, normalmente, caíam chuvas fortes”, constata.
Com o aumento da temperatura do planeta ao longo do último século, o Oceano Índico esquentou mais rápido do que se previa. Como resultado do ar quente e úmido, formam-se nuvens pesadas que resultam em chuvas. Mas, quando o ar sobe novamente, ele é direcionado para o oeste, provocando seca na Etiópia e no Quênia, que ficam na parte leste do continente.
O principal autor do estudo, Park Williams, professor da USGF, explicou ao Correio que, para chegar a essa conclusão, os cientistas compilaram dados sobre temperatura, velocidade do vento e precipitações para checar qual variável estava intimamente ligada a mudanças climáticas na região do Indo-Pacífico. “A maior parte do aquecimento do Oceano Índico pode ser atribuída a atividades humanas, particularmente aos gases de efeito estufa e às emissões de aerossóis”, sustenta.
(EcoDebate, 09/02/2011)