Duas notícias que repercutiram hoje têm em comum o mesmo cerne: o aquecimento global. Da Ásia, mais especificamente do Banco Asiático de Desenvolvimento, noticiado pelo New York Times, veio a previsão de que, à medida que eventos naturais extremos passem a ocorrer com maior freqüência, o número de pessoas deslocadas de seus países para territórios mais seguros também crescerá. Estudo do banco antecipado pelo jornal americano, a ser publicado em março, estima que até a metade do século 21 o número de migrantes em função de desastres naturais deve passar dos atuais 150 milhões para os 300 milhões de pessoas, especialmente na Ásia.
Do britânico The Independent, estudos feitos por cientistas britânicos e brasileiros apontam que a seca de 2010 na Amazônia foi ainda mais severa que a de 2005 – até então considerada a pior da história na região. Os pesquisadores não batem o martelo sobre a razão efetiva do fenômeno mas, pela natureza incomum das duas estiagens, que ocorreram num curto espaço de tempo, acreditam que elas são fruto de temperaturas mais altas da superfície oceânica na faixa tropical do Atlântico. Este último fenômeno, por sua vez, pode ter sua causa no aquecimento global.
O dado mais preocupante do estudo anglo-brasileiro, porém, diz respeito ao “recibo” da grande seca. Os pesquisadores estimam que a floresta amazônica tenha emitido em 2010 em torno de 8 bilhões de toneladas de CO², mais do que as emissões totais dos Estados Unidos, de 5,4 bilhões de toneladas. A seca na floresta em 2005 deve ter gerado cerca de 5 bilhões de toneladas de CO², contra 2 bilhões normalmente absorvidos pela mata. Tais emissões, alegam, podem acelerar o aquecimento global, o que coloca a floresta em um círculo vicioso: é afetada pelo fenômeno e, como conseqüência, contribui para que ele se intensifique.
O Banco Asiático de Desenvolvimento parece não querer assistir de camarote à sucessão de catástrofes e pediu a atenção dos tomadores de decisão do continente para, se não impedir, minimizar os impactos das transformações climáticas globais. Até porque, das dez cidades mais populosas do mundo expostas a enchentes em 2005 e citadas no relatório do banco naquele ano, cinco eram asiáticas: Mumbai e Calcutá, na Índia, Ho Chi Minh, no Vietnã, e Guangzhou e Xangai, na China.
Em 2070, nove das dez cidades mais populosas serão asiáticas. Além dos custos humanos de tamanha transformação, é de se esperar os prejuízos econômicos de toda sorte: elevação de preços de vários produtos, perda de apelo turístico de lugares antes paradisíacos (a exemplo da tragédia recente no Rio de Janeiro) e da credibilidade de países quanto a compromissos assumidos.
(Época Negócios, 09/02/2011)