Ainda há um longo caminho a percorrer em termos da gestão sustentável dos parques e jardins em Portugal. Isabel Silva, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e, Francisco Manso, da Engirega, são unânimes ao traçar o cenário em que «a maioria dos parques em Portugal não são sustentáveis e são pouco promotores de biodiversidade».
«Estamos um pouco atrasados no modelo de gestão, em geral, que não faz recurso aos novos paradigmas. Normalmente, usamos ainda muitas plantas, sobretudo exóticas, que exigem muita mão-de-obra, muitos fertilizantes, e muita água. Por exemplo, em muitos casos, ainda se usa a relva, mas que não pode ser pisada e isso é um contra-senso. Não nos podemos dar ao luxo de ter uma 'coisa' só para olhar», explica a investigadora do Porto. É nesta perspectiva que a oradora do Workshop 'Espaços verdes em tempos de crise', integrado na Urbaverde, adianta que a crise «pode ajudar» a alteração esta situação. «A redução de custos na gestão de parques e jardins tem também inerente a redução dos impactos ambientais», sublinha.
Como tornar esses espaços mais sustentáveis? Requalificar não é o mais adequado, esclarece o especialista da Engirega. É que os custos associados são muitas vezes exorbitantes. «Uma das soluções passa por reduzir a intervenção humana nesses espaços, mas não abandoná-los. Por exemplo, os relvados - ainda muito usados em Portugal – se forem cortados com regularidade e deixadas as aparas no local não precisam de ser regados com tanta frequência», especifica Francisco Manso.A questão é que, mesmo que os municípios comecem a enveredar por estes princípios «é preciso informar as pessoas explicando que determinadas práticas são uma forma de reduzir os impactos ambientais do jardim, que precisa de menos água, e aumentar a sua biodiversidade». Pelo caminho, e em tempos de aperto financeiro, a redução dos custos é uma das vantagens associadas.
O também orador no Worshop da Urbaverde dá um caso prático: na construção de um jardim em Benfica (Lisboa) em que foi eliminada a relva, reduzida a área impermeabilizada [construída], recuperados materiais inertes para a construção de um lago e usadas sobretudo plantas autóctones, foi possível reduzir o orçamento para menos de metade do inicialmente previsto. «Fizemos um sacrifício em termos de estética, mas o ambiente e a biodiversidade ficaram salvaguardados. As espécies escolhidas permitem combater as infestantes e precisam de pouca água. O lago, construído com brita de uma obra em demolição ali ao lado, permitindo que cerca de 12 camiões de brita não fossem encaminhados para aterro, serve sobretudo para albergar rãs e como bacia de infiltração». A ideia é que o impacto ambiental de um jardim seja «zero», aponta Francisco Manso.
Para tal, diz a especialista da Universidade do Porto, responsável pelo elaboração de Códigos de Boas Práticas paras Espaço Verdes, é necessário «repensar a gestão da água, do solo, da vegetação e da biodiversidade. Basta ver que, no norte da Europa, por exemplo, a rega destes espaços é feita com água reutilizada, enquanto nós usamos água potável, o que completamento proibido nesses países.
(Ambiente Online, 08/02/2011)