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uso racional da água pegada ecológica política ambiental do Peru
2011-02-07 | Tatianaf

Enquanto a água doce se extingue na superpovoada costa peruana, as plantações que mais exigem esse recurso crescem sem parar para o lucrativo comércio exterior. Especialistas alertam para este dano e pedem maior responsabilidade do governo e de todos os envolvidos. O valor das exportações agrícolas peruanas, de mãos dadas com os altos preços internacionais, chegou a mais de US$ 3 bilhões entre janeiro e novembro do ano passado, 30,2% mais do que no mesmo período de 2009.

Um exemplo deste pujante setor é a produção de aspargo, que gera 120 mil empregos no campo, segundo dados oficiais. Por outro lado, exige grande quantidade de água. Para um hectare de aspargo, são necessários 22 mil metros cúbicos de água, sete vezes mais do que a necessária para o deslocado cultivo de uva quebranta, tradicional no departamento de Ica, afirmou David Bayer, do não governamental Instituto de Promoção para a Gestão da Água (Iproga).

David disse ao Terramérica que estas estimativas ainda estão “muito abaixo do número real, porque não inclui a água usada no empacotamento do produto com destino à exportação ou para preparar e aplicar os agroquímicos e os produtos para crescimento dos cultivos”. Ele destacou que devem ser acrescentados outros dois mil metros cúbicos por hectare de aspargo. Há uma pegada hídrica que precisa ser considerada, afirmam os especialistas.

Ica e La Libertad, no noroeste do Peru, são as regiões costeiras com maiores extensões de cultivos de aspargo, apesar de serem as mais desérticas do país. Na zona costeira do Pacífico, que concentra 70% da população peruana, a média é de dois mil metros cúbicos de disponibilidade de água por pessoa ao ano, enquanto na área amazônica, com apenas 26%, é de 291 mil metros cúbicos por pessoa anualmente.

“A pegada hídrica é um argumento que exige a responsabilidade de todos, das empresas, do Estado e dos peruanos em geral, que precisam trabalhar na sustentabilidade de um recurso tão escasso para o planeta”, disse ao Terramérica o pesquisador Laureano del Castillo, do Centro Peruano de Estudos Sociais. Este especialista em questões hídricas e políticas rurais considera importante “evidenciar o uso da água nos diversos processos produtivos da industrial, porque não é possível continuar cultivando produtos que exigem enormes quantidades de água em regiões desérticas”.

Entretanto, Roxana Orrego, especialista em bioenergia e mudança climática do Ministério da Agricultura, disse ao Terramérica que, embora a pegada hídrica tenha a ver com a soberania alimentar do país, este assunto “não está sendo considerado” em sua área. “É um critério da Organização das Nações Unidas, mas não é algo efetivo nos países”, ressaltou. O aquífero de Ica é um dos reservatórios mais importantes de águas subterrâneas da costa peruana, mas está secando e, se continuar nesse passo, em 2013 poderá desaparecer, alertou David.

Os moradores de Ica dispõem de menos de dois mil metros cúbicos de água por pessoa, o que é considerado uma situação de estresse hídrico. Segundo um informe do Instituto Geológico de Mineração e Metalurgia elaborado entre 2006 e 2007, a carência de água em Ica chegou a “níveis críticos”. A superexploração do recurso uniu-se às mudanças no clima devido ao derretimento das geleiras de Huancavelica, região vizinha a Ica, e que abastecem de água seus principais rios.

As chuvas chegaram com atraso desta vez. Em lugar de começar em outubro, caíram apenas em janeiro, informou o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru. Também o acumulado de chuva em janeiro no Rio Ica foi 77% abaixo do normal. “É preciso reforçar o enfoque ambiental na agroindústria”, disse Alberto Limo, funcionário do Ministério do Meio Ambiente, que participou, junto com outros especialistas, de uma conferência sobre o assunto organizada pela Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Os especialistas apontaram como outro desafio os projetos de produção de biocombustíveis, que também são promovidos à custa da cana-de-açúcar, outro cultivo que exige água em abundância. No entanto, são impulsionados como alternativa à mudança climática. Quais saídas existem? David propõe que as seis maiores empresas de exportações agrícolas de Ica deixem “de plantar a metade de suas terras para economizar cerca de 75 milhões de metros cúbicos de água por ano”.

O total de águas superficiais usado pelos 14.006 irrigadores em Ica é de 633 milhões de metros cúbicos por ano. O que se extrai do subsolo, majoritariamente por parte das agroexportadoras, chega a 563 milhões de metros cúbicos, enquanto a superexploração do aquífero é de 311 milhões de metros cúbicos, disse David. Contudo, José Chlimper, presidente da Agrokasa, a mais importante produtora de aspargo de Ica, considerou “relativa” esta escassez hídrica. Em um artigo publicado no jornal local, Correo, disse que há uma campanha de desinformação “promovida por interesses ocultos”.

“Tanto a Junta de Irrigação de Rio Seco como a de Ica e Villacurí estão trabalhando em programas de exploração responsável e na formulação de um plano estratégico público-privado para reforçar a sustentabilidade do aquífero”, disse José, insistindo que a chave está no uso eficiente da água. As empresas da região preferem a irrigação por gotejamento. David afirmou que “estas empresas nunca pagaram pelas águas subterrâneas que bombeiam de seus poços”.

“A nova lei de Recursos Hídricos, de março de 2009, agora exige o pagamento de uma tarifa. Por outro lado, os pequenos produtores que irrigam com água superficial sempre pagaram”, explicou. Alberto, por sua vez, informou que o governo de Alan García trabalha em um projeto de caudais ecológicos para determinar a capacidade de uso das bacias hidrográficas. Por outro lado, Laureano disse ao Terramérica que essa análise deve ser feita nos conselhos de bacia, do qual devem participar por lei os diversos atores envolvidos, que, no entanto, ainda não foram criados.

(Por Milagros Salazar, Terramérica, Envolverde, 07/02/2011)


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