A geração eólica, que atualmente representa uma fatia de menos de 1% da matriz de energia elétrica nacional, deve alcançar um patamar de até 15% em dez anos. O presidente da Ventos do Sul Energia e coordenador da Divisão de Infraestrutura, Energia e Comunicações da Federasul, Telmo Magadan, aposta nesse crescimento e no desenvolvimento de uma cadeia local de fornecedores de equipamentos eólicos. A Ventos do Sul Energia é a responsável pela operação do parque eólico de Osório, que conta com 150 MW de capacidade. Além desse complexo, o grupo Elecnor/Enerfin (controlador da companhia) já assegurou a ampliação em 150 MW da sua capacidade de produção eólica no Estado, nos municípios de Osório e Palmares do Sul. Magadan ainda integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-RS) do governo Tarso Genro.
JC Empresas & Negócios - Hoje, com cerca de 925 MW em geração eólica, a fonte tem uma participação de 0,82% na matriz de energia elétrica brasileira. Qual a projeção de crescimento para os próximos anos?
Telmo Magadan - A diversificação das fontes de energia na matriz elétrica brasileira é algo muito importante. O Brasil é uma potência energética hoje das maiores do mundo e temos todas as formas de energia no País, inclusive a eólica. Acredito que a geração eólica possa atingir de 12% a 15% da matriz elétrica nacional em um período de dez anos.
Empresas & Negócios - Qual será o apetite do grupo Elecnor/Enerfin em investimentos em 2011?
Magadan - Primeiro, há a demonstração da continuidade de investimentos do grupo no Rio Grande do Sul, que já foi manifestado ao governador Tarso Genro. O grupo evidenciou que tem desejo de investir mais e que é responsável com os cumprimentos dos prazos. Mas tem algumas coisas em que as políticas públicas precisam ser aprimoradas. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, prevê que, de 2010 a 2019, o Brasil terá que construir 35 mil MW de energia nova, englobando todas as fontes. No meu ponto de vista, a empresa está tendo uma atitude muito responsável quanto ao planejamento do setor elétrico brasileiro. É algo enorme. O que nos interessa no caso das eólicas, na minha opinião, é que se deve tornar mais claro o horizonte para os investidores.
Empresas & Negócios - O que é possível fazer para tornar o futuro do segmento mais previsível?
Magadan - O governo federal precisa dizer quantos leilões serão realizados e qual o volume de energia que será contratado nos próximos anos. O indicado seria projetar dez anos. Com isso, é possível concretizar uma política nacional de investimentos em parques eólicos, uma política industrial voltada para a produção de equipamentos, como aerogeradores e componentes derivados, e um aprimoramento tecnológico.
Empresas & Negócios - Que volume de energia os leilões eólicos deveriam comercializar anualmente?
Magadan - O ideal era trabalhar com uma faixa de 3 mil MW. Um detalhe que reivindicamos é que se estude a possibilidade de realização de leilões regionais. Essa situação contemplaria o Rio Grande do Sul.
Empresas & Negócios - Como o senhor avalia os atuais patamares de preço para a comercialização da energia eólica?
Magadan - Quando uma empresa entra em um leilão e dá um preço, ela tem viabilidade. Os valores que estão sendo praticados são reais.
Empresas & Negócios - Quando o grupo Elecnor/Enerfin deve iniciar as obras de expansão de geração eólica em Osório e Palmares do Sul?
Magadan - As obras começam neste primeiro semestre de 2011. E até 2013 deverão ser concluídas.
Empresas & Negócios - O Rio Grande do Sul e o Nordeste possuem condições de ventos favoráveis para a geração eólica. Como o senhor vê a concorrência entre essas duas regiões?
Magadan - O Rio Grande do Sul tem que enfrentar melhor a concorrência dos estados do Nordeste em relação à questão da energia eólica. E uma prova disso são os resultados dos últimos leilões. Temos ficado com 10%, 12% do total que é arrematado nas disputas, o maior volume de energia fica no Nordeste. O Rio Grande do Sul tem que se dar conta de que a energia eólica é uma dádiva. O Estado possui ventos e não pode dispensar essa fonte, pois é deficitário na produção de energia em relação ao seu consumo. É preciso criar um mecanismo para incentivar o empreendedor a investir na região. O governador Tarso Genro se mostrou extremamente sensível para analisar essa situação. Na condição de presidente da Ventos do Sul e através da Federasul vamos tentar contribuir para que se crie um programa de incentivo à energia eólica no Estado.
Empresas & Negócios - Além do apoio do governo, que outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento da fonte eólica no Estado?
Magadan - Há dois fatores que afetam o mundo atualmente e deverão ser relevantes nos próximos anos: segurança energética para garantir o crescimento econômico e preservação ambiental, com redução da geração dos gases que provocam o efeito estufa. Como ampliar a oferta de energia, mantendo a preocupação ambiental? Esse será um desafio da humanidade. O Rio Grande do Sul tem hoje uma diversificação das fontes energéticas, que passam pela hídrica, térmica e eólica. A eólica é uma nova fonte absolutamente limpa, sem nenhum contratempo ambiental. Além disso, independentemente de o Rio Grande do Sul estar ligado ao sistema interligado de energia, nós precisamos, por segurança, por sermos ponta do sistema, ter uma maior produção de energia. A fonte eólica é complementar à hídrica e pode auxiliar o sistema elétrico em tempos de seca.
Empresas & Negócios - O setor verifica no momento uma carência quanto a uma cadeia nacional de fornecedores de equipamentos eólicos?
Magadan - Estamos criando essa cadeia. A tendência de nacionalização é rápida e já está acontecendo. Até porque o Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para conceder financiamentos, exige isso. Pelo movimento do mercado nacional, identifica-se um grande interesse do ponto de vista industrial e tecnológico para implantar uma cadeia produtiva integral dentro do Brasil.
Empresas & Negócios - E como está essa questão no Rio Grande do Sul?
Magadan - O Rio Grande do Sul tem condições tecnológicas de ser um produtor de equipamentos eólicos. Já poderia haver no Estado uma indústria de aerogeradores. Poderíamos fornecer esses equipamentos para o Mercosul, para a Argentina, que tem um potencial para energia eólica muito grande na Patagônia. Também teríamos a possibilidade de abastecer outros estados e exportar para outras nações. O Rio Grande do Sul está pedindo uma fábrica de aerogeradores e essa pode ser uma meta do novo governo estadual.
Empresas & Negócios - Como o senhor avalia o potencial de produção eólica offshore (na água)?
Magadan - Temos um potencial muito grande em terra, com um custo bem menor, então devemos pensar no offshore mais adiante. Porém, devemos nos preparar para isso, pois o processo tecnológico e as necessidades são mais rápidos, muitas vezes, do que o planejamento. No Nordeste já existem projetos nesse sentido e o Rio Grande do Sul também deve começar a considerar a questão. Temos que pensar com antecipação. Se os equipamentos e a tecnologia empregada diminuírem de custos, a vantagem do offshore é que se alcança um fator de capacidade de geração maior. Isso porque não existem obstáculos para interromper os ventos. É possível, no mar, chegar a 75% de capacidade de produção de energia.
(Por Jefferson Klein, Jornal do Comércio, 31/01/2011)