A luta indígena contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, prevista para ser construída no Pará (região Norte do país) parece não ter fim. Uma nota enviada hoje pelos movimentos sociais paraenses denunciou que o Governo Federal, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Norte Energia estão conseguindo manipular vários membros da Associação dos Indígenas Moradores de Altamira-PA (AIMA) e convencendo-os sobre a necessidade de construção da obra.
Em entrevista à Adital, a presidente da AIMA, Juma Xupaia falou sobre o assédio que os indígenas vêm sofrendo para desistirem da luta contra a hidrelétrica.
"A entrega de cestas básicas nas comunidades indígenas é uma das maneiras de tentar comprar os índios. Eles estão se aproveitando da necessidade que os indígenas passam e oferecendo carro, moto, celular e também dinheiro para que o povo indígena desista de lutar contra Belo Monte e passem para o lado da Norte Energia. O pior é que a Funai não está interferindo em nada", denunciou.
De acordo com Juma, os que se mantêm firmes e não cedem ao assédio da empresa são constantemente ameaçados e pressionados. "Eles nos dizem que é melhor aceitar alguma coisa deles agora do que ficar sem nada depois, pois a hidrelétrica vai sair de qualquer jeito. Sempre dizem que Belo Monte vai sair mesmo contra a nossa vontade".
Outra prova das constantes interferências da Funai e Norte Energia nos assuntos indígenas aconteceu recentemente. De 17 a 22 de janeiro, os indígenas do médio Xingu foram mobilizados pela Funai, com o apoio logístico da Norte Energia, para participarem de reuniões sobre os temas de saúde, educação e Belo Monte.
Como Juma Xipaia, presidente da AIMA, não pode estar presente, indígenas ligados à Funai e membros da Norte Energia aproveitaram a oportunidade para se colocar à frente dos indígenas de Altamira.
De acordo com o comunicado enviado pelos movimentos sociais, este momento foi oportuno para "legitimar ações de seus interesses causando prejuízos aos povos indígenas e interferindo no direito constituído da livre associação das organizações civis e na forma de relacionamento dos índios e de sua cultura".
No último dia 22, Juma confirmou que recebeu um convite da Funai chamando-a para a escolha da nova diretoria da AIMA, pois ela havia sido destituída do cargo por não comparecer às reuniões anteriores. Segundo Juma, em seu lugar, foi colocado seu tio, Luis Xipaia, que já não luta mais contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, pois agora atende a outros interesses.
"Diante do exposto repudiamos e denunciamos as ações e iniciativas da Funai e Norte Energia que expõem os povos indígenas a uma série de ameaças ao mesmo tempo em que enfraquece suas organizações provocando atritos entre os mesmos e pondo em risco a vida de algumas lideranças", manifestaram os movimentos.
(Por Natasha Pitts, Adital, 26/01/2011)