O casal João Alberto D’Ávila Fernandes e Leda Fernandes de Fernandes nunca imaginou que um dia participaria de um projeto de geração de energia, muito menos que teria suas terras ocupadas por imensas turbinas. Mas os tempos são outros, como diz seu João. O casal está muito feliz.
Dono do estabelecimento pecuário Minuano, na região do Cerro Chato, seu João está entre os 19 proprietários rurais que terão aerogeradores em suas terras, duas dentre as 15 programadas para a Fase 3, a primeira que começará a funcionar. Dona Leda confessa que estava temerosa pelos danos que as obras iriam causar, mas agora se diz bem mais tranquila. “Há muitas vantagens em ter as torres, acho até que deveriam colocar mais porque a área utilizada é muito grande”, argumenta a professora aposentada.
A família D’Ávila possui campos no Cerro Chato desde o século 19. Seu João é parente do João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes – seu avô era irmão do avô do folclorista santanense – e tataraneto do general farroupilha David Canabarro.
Atividade de longo prazo
Ele conta que ouviu falar na energia eólica quando começaram a realizar as primeiras medições de vento na região da Campanha. “Mas nunca dei bola, aí me convidaram para participar do projeto no Cerro Chato. Conversamos sobre as vantagens e desvantagens e aceitei”, explica o pecuarista. Segundo ele, a pecuária virou uma atividade de resistência, um esporte para os pequenos proprietários porque a renda é mínima e a longo prazo, sendo preciso um investimento muito grande. “Além de contar com filhos trabalhando lá fora para poder sobreviver, é preciso diversificar a atividade pecuária e agregar outras”, ensina.
Inicialmente o casal teria três torres nos seus campos mas no traçado final ficou só com duas. O pecuarista diz que foi questão de sorte porque teve gente que queria ter as torres e ficou sem nenhuma, e outros se recusaram a participar do projeto.
Água e terra fértil
Uma das vantagens apontadas pelo ruralista é que em troca da brita retirada das jazidas para cobrir as estradas, estão colocando no lugar uma terra preta que, segundo o casal, é muito fértil. “Eles tiram o cascalho, que é permeável, para colocar nas estradas, fácil de secar depois das chuvas, e devolvem essa terra que não serve para eles”, explica. Outra vantagem é que estão abrindo açudes. “O que é muito bom para nossos animais porque a seca está danada. Com os anos, as águas estão sumindo, as vertentes estão secando”, ressalta. O que mantém o comércio pecuário da família D’Ávila é um arroio de pedra com vertentes.
A água proveniente do Aquífero Guarani está a 70 metros no seu campo. Seu João ressalta ainda que haverá seguranças circulando pelos campos para cuidar dos geradores, o que vai coibir o abigeato. “Agora, espero que esse investimento tire o nosso município da miséria porque tinha tudo, empresas, frigorífico, cooperativas, uma delas abatia ao dia 2,5 mil reses, e agora não tem mais nada. Inclusive mão de obra qualificada, no campo e na cidade, o último censo registrou 20 mil pessoas a menos em Livramento”, completa.
(Por Cleber Dioni Tentardini, Jornal JÁ, 25/01/2011)