Criação da Terra Indígena (TI) tenta proteger isolados dos impactos que deverão ser causados pela hidrelétrica na região. Seca artificial do rio e aumento substancial da invasão de terras públicas, no entanto, são problemas que ainda não têm solução.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) criou, na última semana, a TI Ituna / Itatá, que abriga índios isolados, entre as TIs Koatinemo e Trincheira/Bacajá, no Estado do Pará. Durante dois anos, a entrada na nova Terra Indígena será autorizada apenas para funcionários do órgão para permitir o estudo desse grupo indígena. Veja o mapa abaixo e clique para ampliar.
A nova TI foi criada por meio da portaria nº 38, de 11/01/2011, ocupa uma área de 137.756 hectares, entre os rios Xingu e Bacajá, e fica há 50 km da área do projeto da Usina Hidrelétrica Belo Monte. De acordo com o indigenista Fábio Ribeiro, da Funai de Altamira, PA, a intenção é proteger os índios isolados dos impactos previstos em função da obra. “Temos alguns relatos de avistamento desses índios pela população do entorno. A ideia é conhecer e proteger este grupo”.
Fábio conta que a TI Ituna / Itatá fica há aproximadamente 70 km da região da Volta Grande, um trecho do Rio Xingu de aproximadamente 100 km que será desviado para a viabilização da usina. Com o rio seco, não só os povos indígenas, como também ribeirinhos, populações extrativistas e agricultores familiares daquela região deverão ficar sem água, peixe e meios de transporte.
O indigenista explica que regiões onde existem referências de índios isolados são alvo de pesquisas para conhecimento das áreas de ocupação e levantamentos etno-históricos para dimensionar e identificar o território original desses povos.
Parecer da Funai sobre impactos
O Parecer Técnico nº 21 – Análise do Componente Indígena dos Estudos de Impacto Ambiental, realizado pela Funai em setembro de 2009, com base no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte, não só aponta para as pressões que deverão ser causadas sobre os recursos naturais do local como também cita relatos sobre a presença de índios isolados naquela região. “...De acordo com antropóloga Regina Polo Müller, os povos Asuriní do Xingu relatam a presença de índios isolados da região do interflúvio Xingu-Bacajá desde a década de 1970”.
O estudo traz também considerações do órgão indigenista a respeito dos impactos que a usina pode causar a esse grupo. “...o território de perambulação do grupo está localizado há menos de 100 km (em linha reta) do local onde está previsto o barramento do Rio Xingu, no sítio Pimental, na Volta Grande do Xingu. Caso esse aproveitamento hidrelétrico seja concretizado, muito provavelmente o território de perambulação desses grupos isolados seta afetado, principalmente devido ao fluxo migratório ‘espontâneo’ previsto para a região, estimado em quase 100 mil pessoas”
(Por Fernanda Bellei, ISA, 24/01/2011)