Os campos onde estão sendo instalados os cataventos, a subestação de energia e as linhas de transmissão somam cinco mil hectares e são utilizados principalmente para a atividade pecuária. Apenas uma das 27 propriedades atingidas pelas obras da Usina Eólica Cerro Chato cultiva arroz.
São 19 proprietários rurais que receberão royalties sob o que será produzido por cada torre instalada em suas terras. A maioria terá entre um e três aerogeradores, com exceção de dois ruralistas, que terão até dez torres.
Os royalties vão representar 1% da energia gerada, conforme foi acertado com a Eólica Cerro Chato. O diretor da empresa, Luiz Zank, calcula que o rendimento gire em torno de 700 reais por catavento. Esse valor representa quase a metade do que rende cada gerador no complexo eólico de Osório.
“O valor ficará abaixo porque lá existia o Proinfa, um programa de incentivo ao uso de fontes alternativas, que garantiu o valor do megawatt-hora mais alto, 280 reais em média e, consequentemente, uma remuneração mais alta aos proprietários daquelas terras. Aqui na Cerro Chato o valor do MW foi vendido a 131 reais”, explica o diretor.
Mas nessa região da fronteira, onde o vento sopra de todos os lados, pode ser que os cataventos girem muito mais do que se imagina. Há pelo menos três rotas de ventos na região: o Minuano, o Aragano e do Norte. Isso explica a disposição desordenada dos aerogeradores no Cerro Chato.
Negociação complicada
Luiz Zank assumiu a diretoria técnica da Eólica Cerro Chato no dia 9 de março do ano passado e uma das tarefas era negociar com os proprietários rurais os royalties e outras indenizações decorrentes de obras.
Tarefa complicada, segundo ele. “Eu já conhecia um pouco a cultura do pessoal daqui, descendentes dos defensores da fronteira, e tenho muitos amigos da região do pampa, então eu sabia que teria de administrar alguns possíveis conflitos.”
Zank conta que, além do valor das indenizações, uma dúvida recorrente dos ruralistas eram os prejuízos que as obras iriam causar em suas terras. “Explicamos que o maior impacto nos campos seria a abertura das estradas, que envolve a retirada de grande volume de terra, o local onde despejá-lo e a colocação de balastro para que as vias não virassem um lodaçal”, explica. Para compensar outros impactos ambientais, foram negociadas contrapartidas como a construção de açudes para garantir água aos animais e a reposição de terra fértil no lugar das pedras.
Ao mesmo tempo em que os engenheiros acertavam os locais mais apropriados para colocação dos aerogeradores e das linhas de transmissão, também se reuniam com os pecuaristas. Qualquer mudança de posição dos equipamentos, dentro ou em outras propriedades, novos encontros eram feitos. “Depois de tudo pronto, era só torcer para ventar cada vez mais, mas, mesmo assim, alguns não quiseram participar do projeto”, lamenta.
(Por Cleber Dioni Tentardini, Jornal JÁ, 21/01/2011)