O supervisor de operações do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Adelino Lopes Neto, explica a crise da coleta de lixo na semana que sucedeu a noite de Natal e esclarece que, desde o dia 31 de dezembro, a coleta do lixo domiciliar está trabalhando normalmente, da mesma forma como estava antes do dia 24 de dezembro.
“Temos sempre pequenos problemas que são resolvidos rapidamente e fazem parte da nossa rotina. A diferença nesse início de ano é que esses problemas passaram a ganhar uma repercussão maior na mídia, em função ainda daquela crise que enfrentamos depois do Natal, apesar de termos solucionado antes do reveillon”.
Pergunta (P) - A mídia expõe as queixas da população. Se tem queixa, tem problema. Ou não ?
Adelino Lopes Neto (ALN) - Perfeito. Problemas pontuais nesse tipo de serviço sempre houve e sempre haverá. O importante é saber a dimensão deles e a velocidade de solução que se dá a eles quando aparecem. A coleta de lixo, assim como o fornecimento de energia elétrica, o abastecimento de água, as chegadas e partidas de aviões e outros tantos serviços públicos, ou de interesse público, têm uma margem de erro. O “erro zero” é uma utopia a ser perseguida, mas ainda não existe. É inconcebível acreditar que a logística do DMLU, que percorre as mais de 10.500 ruas da cidade, fora becos e vielas, pelo menos três vezes por semana, possa trabalhar com “erro zero”. Dentro desse contexto é que estamos garantindo: a coleta de lixo está normalizada desde a noite de reveillon.
P - Por que, então, a repercussão dessa normalidade de agora é diferente da repercussão na normalidade que existia antes do dia 24 de dezembro?
ALN - Simples. Na normalidade anterior ao dia 24 de dezembro, quando dava um problema, as pessoas ligavam para o DMLU para reclamar. E a partir daí se solucionava a questão. Como essas queixas cresceram muito na semana da crise, as pessoas não se achavam ouvidas – com razão, diga-se de passagem – elas passaram a reclamar na mídia. O DMLU passou a só saber de problemas pela mídia. E as soluções, inclusive por isso, passaram a demorar um pouco mais. Depois, quando veio a solução para a crise, ainda ficou na percepção da população a mídia como “caminho da solução”. Na normalidade após a crise, as queixas não voltaram a ser feitas diretamente ... ou pelo menos não todas. Elas voltam a seu roteiro original lentamente. Então, como seguiram reclamações na mídia, embora decrescentes, a repercussão percebida era de uma continuação da crise. Veja o nosso termômetro, que é o Telefone do Cidadão, o 156: na normalidade anterior, era uma média de 580 ligações por dia. Na época da crise, foram mais de mil ligações por dia. E agora em janeiro, voltaram a ter cerca de 400 ligações diárias.
P – Um número em torno de 500 reclamações por dia não é muito alto ?
ALN – Veja bem: esse número se refere a todos os serviços prestados pelo DMLU, mas, para efeito de raciocínio, tomemos esse número como só queixas da coleta. Se a cidade tem 1,4 milhões de habitantes e a coleta do lixo não está boa para 500 pessoas, o índice de insatisfação é de 0,04%. Ou seja: a coleta está boa para 99,96% dos porto-alegrenses. E se essas queixas forem solucionadas em algumas horas, como qualificar esse serviço negativamente? Mas tudo bem, não levemos em conta o número total da população. Consideremos só os 400 mil domicílios onde o DMLU coleta lixo. As 500 reclamações significarão 0,125%. Satisfação de 99,8%. Vamos convir que é uma margem de erro aceitável até para acidentes de aviação. E mais: se o problema é em “uma rua” (por sinal, de duas quadras apenas), como constatou um jornal na edição de segunda-feira, 17, para colocar no título que “Retorna problema na coleta do lixo”, não nos parece adequado formar a opinião pública com base em um erro de 0,01%.
P – E os alagamentos ? Aquele lixo todo se espalhando pela cidade ...
ALN – Esse é um problema sério, que preocupa muito o DMLU, mas não vamos fazer confusão. Isso nada tem a ver com a coleta de lixo. Nesse sentido, aquela chuvarada da quinta-feira, 13, que foi a mais forte de todas este ano, foi didática. Horário: 14 horas. Se dependesse do serviço do DMLU não haveria nenhuma saquinho de lixo naquele aguaceiro, porque a coleta da manhã já tinha terminado e a da noite ainda não havia começado. Então, todo aquele lixo era lixo descartado irregularmente, por pessoas que não pensam na cidade e colocam seu lixo na rua em dias ou horários inadequados. Aliás, esse comportamento da população nos preocupa muito porque vem crescendo e sem o auxílio, sem a disciplina da população, não há limpeza urbana eficaz.
P – E as notícias de que a empresa terceirizada estaria com problemas e não cumprindo o contrato assinado com o DMLU ?
ALN – No primeiro semestre talvez houvesse algum fundamento. A empresa foi negociada, parece que passou por momentos instáveis financeiramente, enfrentou dificuldades em um ou outro estado e mudou sua razão social de Qualix para Sustentare. Aqui, porém, nesses três anos, ela sempre atendeu o nosso contrato. Quando surge alguma falha, alguma dificuldade, exigimos uma solução rápida. Algumas vezes há a correção satisfatória, outras não e a empresa é notificada ou até multada, como ocorreu 27 vezes em 2010. É importante salientar que, como eles faturam pelo peso do lixo que coletam, lixo que eventualmente fica na rua é prejuízo para eles. Na crise do Natal, quando precisamos trabalhar literalmente sem parar, para recuperar aquele atraso, e os caminhões começaram a quebrar mais ligeiro do que o normal, eles aumentaram a reserva da frota e compensaram na manutenção. Agora, depois de três anos de contrato, estão tendo a iniciativa de trocar a tecnologia do rastreamento dos caminhões para melhorar a qualidade da fiscalização e do controle do processo. Essa, para nós, é a melhor resposta para quem nos pergunta sobre a solidez da empresa.
P – E o que foi exatamente a chamada crise do Natal ?
ALN – No dia 24 de dezembro, sexta-feira, cerca de dois terços da cidade tinham coleta de lixo. Um terço da população tinha tido coleta na quinta e só teria outra vez no sábado. Além do mais, uma grande parte da cidade tinha coleta na sexta pela manhã. Só que milhares de pessoas resolveram que não iam ficar com seus lixos dentro de casa na noite de Natal. E a quantidade de lixo exposta, mais até pelos volumes das embalagens do que pelo peso, fez com que os caminhões lotassem antes do fim dos roteiros, tendo então que voltar à estação de transbordo na Lomba do Pinheiro para descarregar. Isso, mais o temporal da madrugada, gerou um aumento de atrasos em cascata, em efeito dominó, que interrompeu a coleta antes do final, durante a madrugada. O acúmulo de lixo e o dia extremamente quente no sábado, 25, foram agravando o problema. Domingo não existe coleta. E chegamos à segunda e à terça, os dias tradicionais de maior carga de lixo, sem condições de colocar o trabalho em dia. Tivemos que reforçar o trabalho da empresa com pessoal nosso nos dias seguintes e adotar algumas manobras de logísticas, mas no final da quinta-feira, 30, já tínhamos voltado ao equilíbrio da operação, que funcionou com normalidade na noite de reveillon e voltou à sua rotina em janeiro.
(Prefeitura de Porto Alegre, 20/01/2011)