A Dupont, que vem realizando investimentos no Brasil para estimular os projetos de energia fotovoltaica, nos quais a radiação solar é convertida em eletricidade - acredita que 2011 será decisivo para o País deslanchar nessa área. Para isso, a empresa aposta forte em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), principalmente através das parcerias com instituições de ensino.
A perspectiva é que, em no máximo quatro anos, seja possível alcançar uma equiparação de preços das tarifas com a energia tradicional. Assim, elimina-se uma das últimas grandes barreiras para a adoção em massa da energia fotovoltaica no mercado mundial.
O mercado brasileiro de sistemas fotovoltaicos é muito pequeno quando comparado ao de outros países. Nações como Alemanha, Itália, Japão, Estados Unidos, França e Espanha lideram as iniciativas nessa área. Ainda assim, as perspectivas são positivas. "Existem vários projetos em andamento de implementação esse ano de fazendas solares", comenta a diretora para o segmento de Electronics & Communication da Dupont América Latina, Sylvie Gallou. Segundo ela, essa tecnologia já é competitiva no Brasil em aplicações específicas, como para levar energia em locais mais isolados.
Entre os fatores que posicionam o mercado brasileiro como um dos mais promissores nesse tipo de energia, está o acelerado crescimento da demanda energética no País. Estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que, de janeiro a novembro de 2010, o consumo nacional de energia elétrica consolidou expansão de 8,1% quando comparado ao mesmo período do ano anterior.
O fato de ser um país ensolarado também conta pontos a favor. Pesquisas conduzidas pelo professor e pesquisador Ricardo Rüther, da Universidade Federal de Santa Catarina, apontam que o local com menor potencial de geração de energia fotovoltaica no Brasil gera 30% mais energia quando comparado com a área de maior potencial da Alemanha.
A Dupont é hoje um dos principais players mundiais de matéria-prima de alta tecnologia para projetos de energia fotovoltaica, fornecendo praticamente todos os tipos de produtos, com exceção do silício e vidro. Em 2009, as vendas da companhia nesse segmento foram de US$ 550 milhões, devendo superar US$ 1 bilhão em 2010.
A meta agora é ajudar a estimular esse mercado no Brasil. Para isso, a empresa possui duas parcerias estratégicas na área de P&D: com a Universidade de São Paulo (USP) e com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), que possui um centro de referência no estudo da geração de energia elétrica a partir da tecnologia fotovoltaica, o Núcleo de Tecnologia em Energia Solar (NT-Solar). Na parceria com a universidade gaúcha, a empresa disponibiliza para a Faculdade de Física produtos que ainda não foram lançados no mercado para testes locais.
Além disso, a companhia participa do Comitê Setorial que está sendo criado pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O objetivo é realizar um trabalho em conjunto para acelerar o desenvolvimento desse segmento. "Estamos muito ativos, mantendo contato com diversas universidades e empresas. A ideia é criar uma cadeia produtiva no País, impulsionando o mercado local", diz Sylvie. A redução da dependência dos combustíveis fósseis e a criação de novos negócios nos mercados emergentes são apontados pela empresa como os grandes apelos para o desenvolvimento de um mercado local de energia fotovoltaica.
Abrace defende redução de encargos na conta de luz
A diminuição e eliminação de alguns encargos setoriais presentes na conta de luz e o aperfeiçoamento das regras da comercialização de energia elétrica e do gás natural, entre outras medidas, são ações sugeridas pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). O presidente-executivo da Abrace, Paulo Pedrosa, estima que, se não houver mudanças no setor, a tarifa média de energia para clientes industriais e residenciais deve aumentar em cerca de 25% até 2015.
Segundo cálculos da associação, o custo da energia elétrica cresceu, em média, 100% nos últimos dez anos em termos reais para a indústria. Somente no ano passado, o consumidor de energia pagou aproximadamente R$ 17 bilhões em encargos setoriais. Em 2009 e em 2008 foram recolhidos, respectivamente, R$ 13,65 bilhões e R$ 13,58 bilhões.
Pedrosa argumenta que uma das atitudes que poderia evitar essa perspectiva de elevação seria a extinção da cobrança da Reserva Global de Reversão (RGR). O encargo foi criado em 1957 com a justificativa de cobrir os custos de eventuais reversões de concessões do setor elétrico. O presidente-executivo da Abrace lembra que a RGR deveria ter acabado no final de 2010, mas uma Medida Provisória prorrogou a validade da taxa até o ano de 2035. "Isso gera um ônus de R$ 2,5 bilhões ao ano", afirma. Pedrosa tem esperança que a decisão ainda possa ser revertida no Congresso Nacional. Conforme o executivo, mais da metade do valor da conta de luz é constituído por encargos, tributos e contribuições.
(Por Patricia Knebel, JC-RS, 20/01/2011)