Quem diria que sapos, além de cantar e contribuir para o controle da população de insetos, também poderiam ser utilizados como bioindicadores de tragédias anunciadas provocadas pela falta de preservação do meio ambiente? Esse fato já é uma realidade. Um grupo de pesquisa apoiado pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência em Ciência e Tecnologia (Pronex) e formado por pesquisadores em ciência da computação da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), está desenvolvendo estudos a partir de uma rede de sensores para monitoramento de anfíbios. A rede permitirá acompanhar o comportamento deles de maneira contínua em ambientes naturais.
Segundo o doutor em ciência da computação e coordenador da pesquisa, Eduardo Freire Nakamura, o estudo Monitoramento de Anuros baseado em redes de sensores sem fio para avaliação precoce de estresse ecológico deverá, quando concluído, apresentar os resultados do primeiro protótipo do estudo realizado na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Sensores
Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Pronex, com aporte financeiro no valor de R$ 500 mil, a pesquisa é inédita no Amazonas. O grupo de pesquisa também recebeu reforço de mais US$ 50 mil da empresa americana Microsoft, para compra de equipamentos (sensores), computadores e dispositivos para armazenamento de dados. Nakamura explica que as redes de sensores são pequenos dispositivos computacionais que têm a capacidade de processamento de informação, comunicação sem fio e de sensoriamento. "Esses dispositivos são capazes de perceber o ambiente que os cerca", salientou.
Nakamura explicou que os sapos frequentam os ambientes aquáticos e terrestres. Por conta disso, são ótimos bioindicadores. "Eles são muito sensíveis a contaminantes químicos que estejam na água, pois isso é facilmente absorvido pela pele deles", completa o pesquisador destacando ainda que, na prática, eles já são utilizados como bioindicadores, pois qualquer mudança na população de anfíbios em uma determinada região, denúncia algo errado no meio ambiente. Em geral, os anfíbios são espécies sensíveis às mudanças climáticas e ecológicas, pois eles são afetados diretamente quando ocorrem eventos naturais, que podem levá-los à morte. "A nossa proposta inicial é justamente começar em um ambiente pequeno", afirma o pesquisador.
Apesar da pesquisa está sendo desenvolvida no contexto amazônico, focando espécies da região, ela transcende a fronteira brasileira, como exemplo de preservação ambiental. Nakamura acredita que a pesquisa tem grande importância, pois é provedora de conhecimento e poderá auxiliar outras áreas do conhecimento. A partir disso, o pesquisador espera realizar a correlação entre as mudanças da população dos sapos e os eventos climáticos como as chuvas excessivas, secas, dentre outros fenômenos naturais.
Apoio
Nakamura ressaltou ainda que, particularmente, é difícil conseguir apoio para uma pesquisa desse porte, principalmente quanto ela não tem apelo comercial. "Nesse caso, focamos na aplicação ambiental da pesquisa. O apoio da Fapeam para dar início ao projeto foi fundamental, só assim vamos conseguir dar um retorno à sociedade sobre as questões ambientais", finalizou.
Um bioindicador é um indicador consistente em uma espécie vegetal ou animal, ou formado por um grupo de espécies (grupo ecossociológico) ou agrupamento vegetal cuja presença (ou estado) nos dá informações sobre certas características ecológicas, isto é, (físico-químicas, microclimáticas, biológicas e funcionais), do meio ambiente, ou sobre o impacto de certas práticas humanas ou naturais. O princípio consiste em observar os efeitos biológicos, individualmente ou nas populações de diferentes ecossistemas (a escala da biosfera ou às vezes de grandes biomas).
Estes efeitos devem ser mensuráveis devido à observação de diversos graus de alterações morfológicas, alterações de comportamento, dos tecidos ou fisiológicas (crescimento e reprodução), o que, em casos extremos, leva à morte destes indivíduos ou ao desaparecimento de uma população.
(Agência Fapeam/EcoAgência, 19/01/2011)