Além da tragédia na vida da população, o impacto das chuvas mudou também a geografia da região serrana. Há uma semana, especialistas começaram estudos sobre as mudanças no meio ambiente causadas pelas enxurradas. Antes de concluírem a avaliação, já têm uma certeza: em algumas áreas, o dano é irreparável.
As prefeituras das cidades atingidas informaram ontem que o número de mortos na catástrofe chegou a 704 e que no município de Bom Jardim foi encontrado o primeiro corpo.
"Tenho sobrevoado as cidades diariamente e o impacto foi grande. Alguns lugares me chocaram muito. Os leitos dos rios foram assoreados e estão correndo em outras áreas, diferentes do original. Parte das encostas desbancou consideravelmente. Isso mudou parte da geografia e da paisagem da região, o que não tem volta", avaliou o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.
"Fiquei chocado, desceu a encosta toda. Mudou a paisagem e não sei onde minha casa foi parar. Quem está destruído sou eu", desabafou o pedreiro Francisco Sales, morador do Salgueiro, em Teresópolis.
Mapeamento
Desde o início da catástrofe, engenheiros e técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) percorrem as áreas atingidas pelas chuvas em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, fazendo estudos e medições do impacto ambiental. Os dados coletados em terra e através de imagens aéreas farão parte de grande mapeamento da região. As projeções devem ser concluídas em dois meses.
De acordo com Minc, três grandes problemas já foram detectados: a devastação das árvores em boa parte das encostas, o que vai requerer grande reflorestamento; rios entupidos por entulhos; troncos de árvores e veículos, e a perda de fundo de fertilização, ou seja, recursos orgânicos essenciais para a agricultura. "Isso pode gerar impacto até na economia dos municípios. Vamos tentar avaliar a qualidade da terra no fundo dos rios, por exemplo, para tentar aproveitar o material orgânico para a agricultura", disse.
A força da natureza, que varreu do mapa povoados e pequenas comunidades, pode ter provocado também mudanças demográficas, já que nas áreas devastadas não poderão mais ser feitas construções. "Seria irresponsabilidade reconstruir (casas) no mesmo lugar porque iriam cair. Pequenas populações serão deslocadas. Mudanças naturais levam anos, a natureza não é estática. Mas o ruim é quando a mudança acontece e estamos no meio", ressaltou.
(Terra, 19/01/2011)