A tragédia da região serrana do Rio de Janeiro indica que a imprensa brasileira precisa passar a tratar a prevenção nos casos de catástrofes naturais como um item permanente em sua agenda noticiosa, como já acontece no Japão, Costa Rica e Chile, por exemplo.
A combinação fatal de mudanças climáticas, crescimento demográfico e descaso governamental criou no Brasil uma situação similar a de países acostumados a conviver com terremotos, furacões, nevascas e enchentes periódicas.
As tragédias de Teresópolis e Nova Friburgo, no Rio de Janeiro já não podem mais ser consideradas eventos ocasionais devido a frequência com que as chuvaradas estão ocorrendo em regiões urbanas do Brasil, especialmente no verão.
E a cobertura desses eventos também não pode mais ser vista pelas redações como pretexto sazonal para shows tecnológicos, palco para performances individuais de repórteres e competição entre empresas jornalísticas.
A prevenção em catástrofes naturais passou a ser item obrigatório na agenda de serviços públicos da imprensa, a exemplo do que ocorre num país pequeno como a Costa Rica, onde os terremotos são considerados eventos rotineiros. Há jornalistas especializados em cobertura de desastres e até cursos regulares, como os ministrados por órgãos governamentais em países da região andina, também sujeitos a terremotos frequentes.
A abordagem jornalística de prevenção de acidentes prevê um trabalho continuado de produção de informações voltadas ao interesse público e à preparação das comunidades para enfrentar situações especiais. Trata-se especialmente de usar a notícia para estimular a preocupação com ações coletivas e criar solidariedades, não apenas na hora da tragédia.
A imprensa tem ainda uma outra função importantissima, conforme a maioria dos manuais existentes sobre prevenção de catástrofes naturais: a de acumular informações e conhecimento sobre desastres e suas consquências. Cada evento gera lições que não podem ser desperdiçadas.
Além disso, a imprensa não pode trabalhar desvinculada das comunidades. Se a relação entre jornalistas e comunidade fosse algo incorporado à rotina profissional, teria sido bem mais fácil usar todos os recursos de comunicação e a rede de contatos dos jornalistas para avisar a população sobre a iminência de uma tragédia. Na Costa Rica, a sincronia entre autoridades, imprensa e comunidades é quase automática numa catastrofe natural.
Na cidade de Areal, na região serrana do Rio, vizinha a Petrópolis, não houve perda de vidas humanas porque a prefeitura avisou a população a tempo sobre a possibilidade de uma tromba d´água.
A preocupação com a prevenção reforça a idéia de jornalismo como serviço público, uma abordagem da profissão que hoje está quase sepultada pela visão mercantil e industrial das empresas de comunicação.
(Por Carlos Castilho, Observatório da Imprensa, Envolverde, 17/01/2011)