Em Santa Catarina, nada me surpreende quando o assunto é lixo. Principalmente, na temporada de verão. Estive em Araranguá e, em companhia dos jornalistas do periódico Sem Censura*, fomos documentar algumas aberrações. Melhor: crimes ambientais que ocorrem em vários pontos da cidade.
Hoje, vou contar apenas uma das tantas que presenciamos.
Adivinhem quem decide o destino de boa parte do lixo de Araranguá? Uma empresa chamada (Eco) Tele Entulho. Dessas que colocam uma caçamba bonitinha nas ruas pra recolher o quê? O lixo da construção civil. Como ninguém fiscaliza nada, elas recolhem de tudo!!!
Ouvimos o motorista de um dos caminhões dessa tal de (Eco) Tele Entulho. Segundo ele, seu chefe está fazendo um aterro (e apontou para um lixão no banhado, no final de uma das ruas do bairro Alvorada).
- Quando é carga que a gente vê que vai afetar o solo, a gente não deposita ali, leva lá pro Edson, da Preservale -, ele disse.
(Explicando: a Preservale é um lixão – chamado de centro de reciclagem – construído na área do antigo lixão de Araranguá. Claro que o lixo do antigo lixão ainda está lá. E mais claro ainda que a Preservale tem licença da FATMA – nosso órgão ambiental que é pago pra licenciar, fiscalizar e legalizar a ilegalidade).
Aí, perguntei:
- Quem decide se o lixo vai pra Preservale ou não?
- A gente decide. Se o material é sólido, deixa aqui. Se não, leva pra lá.
Gente, se ninguém se mexer, o banhado vai ser aterrado com lixo. Ali, tem de tudo! E, na volta desse banhado, tem o quê? Plantação de arroz.
O caminhão que flagramos carregava os enfeites natalinos do centro da cidade. Como era “coisa boa”, “reciclage”, segundo o motorista, seria deixado no banhado; ou melhor, no “aterro do dono da (Eco) Tele Entulho”.
Isso é o que eu chamo de Fiscalização Zero!
Amanhã, conto mais!
* – http://www.jornalsemcensura.com.br/
Ana Echevenguá, advogada ambientalista, presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Águas, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: http://www.ecoeacao.com.br.
(EcoDebate, 17/01/2011)