Desde 2002 a Eletrosul realiza medições sistemáticas dos ventos no Rio Grande do Sul. A partir de 2005, a estatal elaborou dois projetos eólicos para Santana do Livramento: Cerro Chato e Coxilha Negra. Este último aguarda definição do governo para disputar novo leilão. Caso o Coxilha Negra se concretize, com a instalação de 200 aerogeradores capazes de produzir 400 MW, essa região do pampa, a meio caminho de Quaraí, vai se tornar uma dos maiores pólos de geração de energia renovável produzida pelos ventos.
O projeto da Usina Cerro Chato foi contemplado no primeiro leilão de energia eólica, promovido em dezembro de 2009 pela Empresa Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Considerado um sucesso por especialistas e pelo Governo, o leilão confirmou as expectativas do Ministério de Minas e Energia quanto aos preços praticados e quantidade de energia contratada. O lance ofertado para a energia produzida no Cerro Chato foi de R$ 131,00 por megawatts/hora e representou um deságio de 31,7% – vencia quem oferecesse o menor preço.
O valor alto do megawatt/hora era um dos grandes empecilhos para que projetos de energia eólica participassem dos leilões do governo, que envolviam várias fontes de energia. Para se ter uma ideia, o preço do MWh de energia hídrica no Brasil é de R$ 70, em média, enquanto o MW/h da eólica custava R$ 250,oo.
Mas esse valor pode ser mais baixo, uma vez que o potencial e a intensidade de ventos no Brasil são maiores que na Alemanha, por exemplo. Lá, se produz energia elétrica a partir de ventos de 5 a 6 metros por segundo, enquanto aqui são considerados de 6 a 9 m/s.
O expressivo número de projetos habilitados – 339 no total – sinaliza a abrangência que o setor deve conquistar nos próximos anos, principalmente com a entrada em operação de 71 novas usinas eólicas, que devem gerar juntas, pouco mais de 1.800MW ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Para o diretor de Engenharia da Eletrosul e especialista em energia eólica, Ronaldo Custódio, o preço de venda da energia oferecido pela estatal pode ser creditado a dois fatores: os investimentos que a Eletrosul vem realizando ao longo dos últimos quatro anos no estudo e desenvolvimento de projetos eólicos e a engenharia econômico-financeira da proposta comercial, “que vão resultar numa rentabilidade adequada e que contribuíram para tornar a nossa participação no certame mais atrativa”, explica o diretor.
Outro fator de diferenciação está na composição das torres que sustentarão os aerogeradores. “Ao contrário do usual, vamos utilizar concreto, produzido na região. Isso permitiu uma redução dos custos”. Segundo o diretor, esta tecnologia já vem sendo utilizada pela Enercon com sucesso em outros empreendimentos.
Ronaldo lembra ainda, que o número expressivo de projetos participantes garantiu uma disputa acirrada entre os proponentes. “Com a concorrência, a sociedade brasileira foi a grande vencedora, pois o leilão produziu tarifas mais adequadas para os consumidores”.
Com um litoral com mais de nove mil quilômetros de extensão, o Brasil apresenta condições ideais para aumentar a participação desta fonte renovável de energia na matriz energética brasileira.
Para o diretor, os ventos da região Nordeste são considerados os melhores, mas os da região Sul são mais constantes. “Outro fator positivo é que no Sul existem mais acessos de conexões à rede de energia elétrica, o que nos garantiu vantagem competitiva na formulação do preço”, completa o dirigente.
(Jornal JÁ, 17/01/2011)