O excesso de chuvas no Sudeste, que provocou mortes e destruição na região, também traz um outro efeito: o agravamente da estiagem no Sul do país. Nos meses de verão é frequente a formação sobre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais de um fenômeno chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Trata-se, conforme a MetSul, de um grande corredor de umidade que começa na Amazônia, passa pelo Centro-Oeste e chega até o Sudeste
"Esta faixa de instabilidade que cruza o país funciona como um sugador de umidade que reduz o fluxo de ar úmido e, consequentemente, da chuva no Sul do Brasil", explica o meteorologista Eugenio Hackbart. "Nosso regime de chuva no Rio Grande do Sul está muito associado ao posicionamento do canal primário de umidade da América do Sul", explica.
Quando a faixa de instabilidade está concentrada no centro do Brasil durante o verão, o Rio Grande do Sul passa a ficar mais dependente das passagens de frentes frias para que chova, mas como elas tendem a passar com intervalos maiores e com trajetórias mais pelo mar durante os meses de verão, a chuva acaba sendo escassa. "O pior é que quando as frentes frias chegam até o Rio Grande do Sul, com a maior parte da umidade sendo sugada para o Sudeste do Brasil, os sistemas perdem força e provocam menos chuva que normalmente trariam durante o inverno", diz Hackbart.
Outro fator agravante para a redução da chuva no Rio Grande do Sul no verão é o fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, que interfere na circulação atmosférica em todo o planeta, fazendo com que a chuva aumente ou diminua em diferentes regiões. "Neste momento o La Niña exerce papel fundamental para o reigistro da catastrófica enchente na Áustralia e a estiagem no Rio Grande do Sul, apesar dos dois locais estarem em pontos distantes do globo terrestre", comenta Hackbart.
(Gazeta do Sul, 14/01/2011)