Dados divulgados pela Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo mostram a redução na emissão de gás carbônico (CO2) em Bauru por conta da queda no consumo de derivados de petróleo utilizados como combustível. Entre 2007 e 2009, o consumo de gasolina automotiva sofreu queda de 8% na cidade. Para o diesel, combustível mais consumido no País, a diminuição foi de 12,5% nas ruas de Bauru.
Na contramão, a venda de etanol aumentou 78%, chegando aos 109 milhões de litros nos postos bauruenses, contra 105 milhões de diesel e 60 milhões de gasolina. Essa foi a primeira vez que o óleo diesel foi superado pelo etanol, combustível mais limpo e que polui até 89% menos a camada atmosférica.
Embora a indústria automobilística esteja em alta com o constante aumento do número de carros nas ruas (em agosto de 2010, Bauru chegou à marca de 200 mil veículos em circulação), a mudança na escolha do combustível pelos motoristas tem colaborado com a redução da emissão de CO2, o principal vilão do efeito estufa, fenômeno responsável pelo aquecimento do planeta. Em 2007, a emissão foi de 509 mil toneladas em Bauru, caindo para 500 mil em 2008 e para 457 mil em 2009.
Segundo o secretário municipal do Meio Ambiente, Valcirlei Gonçalves da Silva, os números mostram que o programa nacional de incentivo ao etanol funcionou e contribuiu muito para a redução na emissão de gases poluentes. “Precisamos agora de projetos que incentivem a utilização do transporte público e a prática da carona solidária. Temos como objetivo acompanhar as diretrizes para os municípios que possuem o Selo Verde”, afirma.
Valcirlei conta que a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) iniciou diálogo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) para que os próximos contratos exijam que os veículos responsáveis pelo transporte coletivo sejam movidos a etanol. “Internamente, temos o controle da frota da secretaria com constantes regulagens no motor e aquisição de carros flex, que podem utilizar o álcool”, relata.
Para a secretária executiva do Instituto Ambiental Vidágua, Maria Helena Beltrami, todas as ações que colaborem com a redução de CO2 na atmosfera são válidas. No entanto, ela acredita que a principal transformação precisa partir das atitudes cotidianas dos cidadãos. “Hoje está na moda discutir a questão ambiental, mas as práticas são incoerentes. Todos pensam que os governos e a sociedade precisam agir de forma concreta em defesa da questão ambiental, mas a maioria não olha para si e não reflete nas consequências do lixo que produz, da água que desperdiça etc”, aponta.
Para a advogada e ambientalista, o aumento no consumo de etanol como combustível não está relacionado aos seus benefícios à saúde do planeta. “Tenho convicção de que a questão econômica prevalece, pois o álcool é mais barato”, afirma.
Queda do óleo não é tendência nacional
Segundo Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobras e professor da Universidade de São Paulo (USP), o etanol é mais vantajoso na relação custo-benefício ao longo da maior parte do ano no Brasil. Ele observa, no entanto, que a superação do diesel pelo etanol trata-se de um fenômeno isolado e localizado em Bauru.
“O álcool é utilizado por veículos de pequeno porte, enquanto o diesel é destinado ao transporte de cargas e passageiros. No momento aquecido da economia, o óleo diesel está sendo muito consumido nesses setores”, explica.
Sauer aponta uma combinação de dois fatores para a formação deste quadro específico em Bauru. O primeiro deles é o aumento do poder de consumo, que fez crescer a aquisição de veículos novos movidos a álcool. O outro são as características favoráveis do Interior de São Paulo para a produção do etanol. “A competição deste combustível com a gasolina não é mais novidade. Caso não haja mudanças nas resoluções do preço, até 2015 a gasolina pode ser praticamente extinta do mercado”, afirma.
O professor aponta, porém, que a popularização do etanol no Brasil não é refletida na esfera global. “Os países são muito dependentes do petróleo e do carvão. Esses serão os combustíveis dominantes no mundo até 2030 ou mais”, prevê o especialista.
Sauer explica que o preço do barril de etanol no mercado mundial gira em torno de US$ 45, enquanto o de petróleo custa cerca de US$ 10. “A lógica capitalista não permite a viabilidade do etanol. O petróleo do pré-sal deve ser destinado, em sua maior parte, ao mercado externo”, acredita.
Os perigos do ar poluído
Segundo informações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), as emissões causadas por veículos carregam diversas substâncias tóxicas que, em contato com o sistema respiratório, podem produzir vários efeitos negativos sobre a saúde. Essa emissão é composta de gases como monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx), hidrocarbonetos (HC), óxidos de enxofre (SOx), material particulado (MP) etc.
O contato dessas substâncias com o organismo humano pode ocasionar mal estar, irritação dos olhos, da garanta e da pele, dor de cabeça, enjoo e bronquite.
Custo-benefício é principal critério
A relação custo-benefício é o principal critério para escolha do combustível na hora de abastecer os carros flex. Para concluir qual é a melhor opção, o consumidor deve dividir o preço do litro do álcool pelo preço da gasolina. Se o resultado for maior que 0,7, deve optar pelo segundo combustível. Se for inferior, é melhor ficar com o álcool.
De acordo com os valores médios divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o resultado deste cálculo já chegou a 0,67 em Bauru.
(JC Net, 11/01/2011)