Omunicípio de Candiota, um dos mais prejudicados pela seca que assola a região Sul do Estado, já teve mais de 20 bovinos mortos devido à falta de água. Ontem, o produtor Roberto Ortiz perdeu uma das quatro vacas que cria em sua propriedade de 19 hectares. O animal vinha perdendo peso devido à falta de campo nativo para alimentação e à pouca e barrenta água que restava no açude. "Há três dias ela não levantava mais e, no início da tarde de ontem, não resistiu."
A situação não é isolada. Segundo o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador, os óbitos podem passar de 30 e vem ocorrendo desde a última semana de dezembro, quando decretou situação de emergência. A maioria deles é de bovinos de corte, principal atividade do interior do município. Segundo o secretário de agropecuária de Candiota, Fabiano Oswald, o rebanho de 40 mil cabeças de corte já perdeu, pelo menos, 15% do peso. A produção leiteira das 7 mil cabeças, que é de 300 mil litros de leite por mês, foi reduzida a menos da metade, não chegando, hoje, a 150 mil litros por dia.
Outro caso é o da produtora Maria Soares. Dos 130 bovinos que cria, 11 vacas e dois terneiros morreram nos últimos dez dias. Ela teme registrar baixa de mais três animais até o final da semana. "A maioria morreu de sede e fome. Levamos feno e ração até os animais, mas tivemos que buscar os terneiros de caminhonete porque eles já não caminhavam até a mangueira. Levamos guincho para levantar os animais adultos. Nada é suficiente. Há mais de trinta anos não via uma situação como essa." Ela contabiliza um prejuízo de pelo menos R$ 20 mil.
O município conta com 10 mil habitantes, sendo 1,2 mil famílias na zona rural. O prejuízo total até agora, segundo Folador, supera os R$ 7 milhões. Oswald estima que R$ 3,2 milhões devam-se à perda de peso do gado de corte e R$ 2,8 milhões à perda nas pastagens. "O comércio já começa a sentir os reflexos da seca. Com a diminuição da renda no campo, reduz a circulação de recursos no município", observa o prefeito.
Na zona rural, também há grande necessidade de água para consumo humano. Até ontem, dois caminhões da Cooperal, que recolhiam leite, estavam distribuindo água no interior, além de outros dois com bombonas. Diariamente, são distribuídos 100 mil litros/dia. Na zona urbana, a prefeitura pede que a população evite o desperdício.
(Correio do Povo, 06/01/2011)