Os restaurantes e lancherias de Bagé estão mudando horários, usando materiais descartáveis e restringindo o uso do banheiro em razão do racionamento de água de 12 horas. A cidade foi dividida em dois setores para o abastecimento por causa da estiagem.
Estabelecimentos no Centro foram os mais prejudicados, já que, nessa região, o horário de abastecimento é das 3h às 15h, período de maior movimento. O dono de uma lancheria e panificadora José Antônio Teles Lunardi disse que a caixa d'água com capacidade para 5 mil litros não é suficiente para atender a demanda do estabelecimento, que começa a funcionar às 5h e fecha às 24h.
Quando esvazia o reservatório, ela leva em torno de 12 horas para encher. “Psicologicamente a gente trabalha super mal e apreensivo porque a qualquer momento pode faltar água”, desabafa. Uma das preocupações dele, assim como de outros empresários, é com os banheiros.
Uma das medidas mais contundentes é a da empresária Jaqueline Oliveira, proprietária de um dos restaurantes mais movimentados de Bagé: ela já pensa em conceder férias coletivas durante todo o mês de fevereiro. Como às 15h começa o racionamento, a louça que não foi lavada até esse horário fica para a noite. “A prioridade é o preparo do almoço”, explica. O trabalho que deveria ser feito na tarde se estende para o período noturno. Jaqueline lembra que, há 21 anos, quando foi para o hospital dar à luz o primeiro filho, teve que se lavar com água mineral. “Essa situação não mudou até agora”, lamenta.
Já a empresária Lizete Laci Severo, conhecida por Tia Gorda, critica o horário do racionamento para o comércio localizado no Centro da cidade. Ela trabalha com lanches, abre o estabelecimento às 13h30min e só fecha por volta da 1h30min. Antes, Tia Gorda abria o banheiro do local para todo público, mas agora fica restrito só para os clientes. A empresária avisa que, se o racionamento se intensificar, vai ter que trabalhar com materiais descartáveis.
Dono de uma filial da Lanches Santa Maria, Carlos Roberto Pereira reconhece que o horário do racionamento no Centro se tornou uma situação insustentável. Em função disso, a primeira medida que ele está adotando é a colocação de caixa de água. No momento, o empresário, que atende das 11h30min até a 1h, está juntando água em baldes. 'É uma baita sacrifício”, reclama.
Beleza
Um dos setores que mais consome água é o de beleza. A cabeleireira Josiane Lacerda Dias enfrenta dois problemas: a falta d'água e o aumento de gastos com energia elétrica. Para armazenar o produto, ela teve que comprar baldes com capacidade para 30 litros. Esse recipientes, que custavam R$ 20, agora subiram para R$ 38.
Como tem que aquecer água para lavar os cabelos, Josiane paga mais pelo consumo de emergia - a química, relaxamento e progressiva são os que mais consomem energia. Se não bastasse, a cabeleireira ainda perdeu clientes que costumavam frequentar o salão entre às 17h e 18h, já que nesses horário não há mais água nas torneiras. “É uma mão de obra que a gente acaba gastando mais e tendo menos lucro”, diz, resignada.
Hoteis
Um dos maiores da cidade, o City Hotel adotou uma estratégia que visa conscientizar os hóspedes: nos apartamentos, foram colados cartazes alertando sobre a importância de economizar água. A medida foi adotada pela direção desde o racionamento do ano passado.
Postos de combustíveis
Grande parte do postos de combustíveis da cidade contam com poços artesianos. No entanto, um deles, localizado na avenida Santa Tecla, pretende diminuir o período de lavagem dos veículos. Outro posto que pertence a uma rede trocou a mangueira por um regador para economizar água.
Hospitais
O maior hospital de Bagé, a Santa Casa de Caridade tem poço artesiano. Já o Hospital Universitário, com 97 leitos, aguarda para ver o que vai acontecer. O administrador da instituição, Paulo Zamdomenegui observa que essa é uma época com poucas pessoas internada, porém avisa que, se o problema intensificar, irá pedir o auxílio de um caminhão pipa do Departamento de Água e Esgoto de Bagé (Daeb), como ocorreu no último racionamento.
Lavanderias
O empresário Heráclito Moreira, que trabalha com lavanderias há 15 anos, resolveu se precaver após sofrer com outros racionamentos. Ele construiu um poço artesiano e tem um reservatório. A lavanderia atende o público e hotéis da cidade.”Já carreguei muita água como uma mula”, lembra Moreira. Agora, o empresário diz que está preparado para atender aqueles que podem ficar sem água para lavar roupa.
Arroios
Arroios
O Arroio Bagé, que corta a cidade, tem pontos que só aparecem pedras e vegetação. Um local desse leito, conhecido como paredão, está praticamente seco. O secretário municipal de Meio Ambiente, Alexandre Melo, lembra que os leitos da cidade foram limpos em 2009. Toneladas de lixo e terra foram retirados dos leitos. Outro arroio da cidade, o Gontam também está com o nível de água bem aquém do normal.
Perigo nos banhos
Aqueles que não tem condições de frequentar piscinas de clubes e camping para se refrescar apelam para os banhos em locais considerados de risco. O tenente do Corpo de Bombeiros Daniel Madruga Freire avisa que o local mais perigoso são as Pedreiras, ao lado do bairro São Judas Tadeu, na zona leste da cidade. Esse local é muito frequentado por adolescentes. “A profundidade é maior é oferece mais risco”, alerta.
Outro fator provocado pela estiagem são as queimadas. Na cidade, é o lixo que é queimado em locais inadequados e próximos a vegetação alta. O problema se estende às BRs 153 e 293.. “Isso causa grande destruição”, afirma Freire.
Avaliação prematura
A prefeitura considera prematuro avaliar o quanto a estiagem pode provocar de prejuízos no Produto Interno Bruto (PIB) do município, uma vez que não se sabe até quando pode se prolongar a seca. No entanto, o governo reconhece que os impactos são negativos, principalmente nas lavouras.
Reunião de emergência
Nesta terça-feira, o prefeito Luís Eduardo Colombo dos Santos (Dudu) se reuniu com representantes da Defesa Civil, do Daeb, de produtores rurais e secretarias municipais. O objetivo era tratar sobre a estiagem que castiga o município. No encontro, ficou decido que os representantes de diferentes segmentos vão fazer um relatório nos seus respectivos setores e apresentar esses dados no dia 14 de janeiro.
(Correio do Povo, 05/01/2011)