A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) quer avaliar o laudo com a análise da fuligem expelida pela Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no entorno da usina, em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, no fim de dezembro.
De acordo com o pneumologista Hermano de Castro, chefe do ambulatório de Doenças Pulmonares Ambientais e Ocupacionais da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), ligada à Fiocruz, o material pode conter, além de elementos que irritam o aparelho respiratório, como o grafite, outros metais que podem provocar câncer no longo prazo. Ele informou que a Fiocruz enviou ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) um ofício solicitando as informações.
Técnicos do Inea coletaram amostras das partículas expelidas, mas, segundo a assessoria de imprensa do órgão, ligado à Secretaria Estadual do Ambiente, ainda não há previsão de quando o resultado da análise laboratorial ficará pronto.
“Precisamos ter uma avaliação qualitativa e quantitativa desse material que foi coletado pelos técnicos do Inea. Poeira de siderurgia pode não ser só grafite. A literatura de vazamento de siderurgias revela que, em geral, há uma composição de metais variados, como zinco e cromo, que podem ser mais graves à saúde. Também precisamos avaliar o percentual de fração respirada pela população”, afirmou Castro, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo ele, mesmo que a fuligem tenha sido formada apenas por grafite, principalmente crianças e idosos podem ter quadros de asma e bronquite agravados, além de irritações na pele. “Mesmo que seja só grafite, as pessoas não devem respirar grafite, as pessoas não vivem respirando grafite achando que isso é inerte”, acrescentou.
O pneumologista também ressaltou que, além da poeira visível, existem as partículas menores que, dependendo do tamanho, podem chegar aos alvéolos pulmonares e aumentar as chances do desenvolvimento de câncer. “As partículas maiores vão irritar o nariz, a traqueia, a parte mais grossa do brônquio. Mas as menores podem chegar até os alvéolos e, aí, a consequência é pior porque metais desse tamanho podem ser cancerígenos no futuro”, explicou.
A recomendação, segundo Castro, é que haja um acompanhamento da saúde da população exposta às emissões, para verificar a evolução dos quadros de irritação respiratória e cutânea, por exemplo. Ele também defende que, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e da própria empresa, haja uma busca ativa de casos de comprometimento da saúde em função das emissões, que também devem ser monitorados.
A CSA divulgou hoje (3) uma nota veiculada em diversos jornais reconhecendo “o incômodo gerado” aos vizinhos pelas emissões, mas garantindo que elas não geraram danos à saúde da população.
Segundo a empresa, “laudo de renomado especialista, o médico René Mendes, é taxativo ao afirmar que não existe qualquer relação entre as emissões de grafite verificadas e doenças na população”. A nota afirma, ainda, que o grafite é totalmente inerte e não tóxico e que sua poeira forma flocos de grandes dimensões, que não chegam aos pulmões. A CSA informa, também, que acatou a decisão do Inea de indenizar moradores atingidos no valor referente à limpeza dos imóveis e mobiliário e que aguarda o instituto determinar a área onde as residências receberam a fuligem.
Pelas emissões de agosto, a secretaria do Ambiente multou a companhia em R$ 1,8 milhão e prometeu estabelecer nova multa por causa dos problemas do mês passado. Além disso, a companhia foi obrigada a operar com 30% de sua capacidade até que sejam resolvidos os problemas técnicos que resultaram no lançamento de poluentes no ar, no entorno da usina, em dezembro. Na ocasião, a secretária do Ambiente, Marilene Ramos, chegou a afirmar que a siderúrgica poderia não receber a licença definitiva de funcionamento, prevista para fevereiro, se não fizesse as adequações acertadas para evitar novas emissões.
A CSA, fruto de uma parceria entre a alemã ThyssenKrupp e a brasileira Vale, foi inaugurada em julho do ano passado e funciona com uma licença de pré-operação.
(Por Thais Leitão, Agência Brasil, EcoDebate, 04/01/2011)