As negociações internacionais no âmbito das Nações Unidas não foram suficientes e a primeira década do século 21 termina sem um novo acordo vinculante para combater o aquecimento global, um fenômeno que produz cada vez mais catástrofes naturais no mundo.
A luta contra a mudança climática atravessou em 2010 um processo de convalescença que culminou em dezembro na 16ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP-16), em Cancún (México), na qual houve apenas alguns tímidos avanços, embora a ONU tenha recuperado o protagonismo perdido em Copenhague um ano antes.
A cúpula de Copenhague realizada em dezembro de 2009 esteve a ponto de deteriorar as negociações multilaterais no âmbito da ONU, quando um grupo de potências tentou impor sem sucesso um acordo negociado a portas fechadas ao resto das nações presentes no encontro.
Desde então, as reuniões de especialistas e ministros mantidas neste ano em Nusa Dua (Indonésia), Bonn (Alemanha), Genebra (Suíça) e Tianjin (China) buscaram retomar a confiança multilateral no processo.
O ano começou mal, com a inesperada renúncia, em fevereiro, do secretário-executivo da Convenção da ONU para a Mudança Climática (UNCCC), o holandês Yvo de Boer, que a imprensa vinculou ao fracasso de Copenhague.
Diante do sombrio panorama, México e ONU rebaixaram as expectativas de conseguir acordos vinculantes em Cancún, uma estratégia que permitiria no final qualificar a cúpula como um "êxito" por mais modestos que fossem seus resultados.
A principal conquista da reunião foi pôr sob o guarda-chuva das Nações Unidas os objetivos dos países mais poluidores do mundo --Estados Unidos e China-- de cortar suas emissões de gases poluentes, e reduzir em parte as diferenças entre ricos e pobres.
A Bolívia foi o único dos 194 países presentes na COP-16 a se opor aos compromissos aprovados no México, por considerá-los insuficientes.
Os países presentes na cúpula criaram o Fundo Verde para administrar a ajuda que os países desenvolvidos se comprometeram a fornecer em Copenhague às nações em desenvolvimento para fazer frente à mudança climática --US$ 30 bilhões para o período 2010-2012 e US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020.
Outro acordo foi manter a meta também fixada em Copenhague de limitar a um máximo de 2ºC o aumento da temperatura média em relação aos níveis pré-industriais neste século e elevar o nível de ambição dos países na redução de emissões de gases causadores do efeito estufa.
Mas a Conferência deixou para a próxima reunião em Durban (África do Sul), no final de 2011, os temas mais controvertidos, como o futuro do Protocolo de Kyoto (1997). Este tratado, cuja primeira fase expira em 2012, obriga 37 países desenvolvidos a reduzirem suas emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases.
Um dos pontos mais conflituosos para a renovação do protocolo é o fato de ele não se aplicar nem aos EUA, que não o ratificaram, nem à China, que é considerada um país em desenvolvimento.
Segundo cálculos da ONU, mesmo se todos os países --entre eles EUA e China-- cumprissem os compromissos voluntários de cortes das emissões que anunciaram até agora, será difícil manter a alta das temperaturas abaixo dos dois graus considerados críticos.
E, apesar disso, cientistas da Royal Society de Londres advertiram que o aquecimento global pode ser maior que 4ºC nos próximos 50 anos caso não se reduzam de forma drástica as emissões daqui até 2020.
A década 2001-2010 foi a mais quente da história da humanidade, de acordo com a Organização Mundial de Meteorologia, que aponta este fenômeno como causa de ondas de calor na Rússia, inundações no Paquistão e secas na Bacia Amazônica e sudoeste da China.
Agora, todos os olhos estão postos para a próxima cúpula de Durban, onde talvez haja mais pragmatismo pelo fato de estar mais perto do vencimento do Protocolo de Kyoto, único tratado vinculante em matéria de aquecimento global.
(Efe, Folha.com, 03/01/2011)