Além de causar danos à floresta amazônica e sofrer forte resistência de povos indígenas, a usina hidrelétrica de Belo Monte também poderá ser um péssimo negócio para investidores, instituições financeiras e parceiros, de acordo com o relatório "Análise de Riscos para Investidores no Complexo Hidrelétrico Belo Monte", lançado hoje (23) pelas organizações Amigos da Terra - Amazônia Brasileira e International Rivers.
Segundo o estudo, as instituições financeiras que optarem por investir em Belo Monte poderão ser co-responsabilizadas pelos danos sociais e ambientais que a usina causar. O estudo é divulgado dois dias depois de o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciar o primeiro financiamento de Belo Monte, de R$ 1 bilhão.
Entre os principais riscos, está a possibilidade de prejuízo financeiro, já que o desempenho de geração de energia do projeto é questionável. A grande variação de nível do rio Xingu fará com que a potência máxima da usina só seja alcançada nos meses de cheia do Xingu, enquanto que períodos de seca farão com que poucas turbinas sejam acionadas. A capacidade de geração média será de 4.420 MW, apenas 39% do total da capacidade instalada, de 11.233 MW.
O documento cita uma simulação sobre a lucratividade da operação, elaborada pelo banco Santander. De acordo com essa simulação, em um cenário otimista, em que o custo total da usina seria de R$ 20 bilhões, construída em cinco anos e a energia seria vendida por R$ 78 Mwh, o projeto teria um Valor Presente Líquido (VPL) negativo de quase US$ 8 milhões. No cenário mais realista, considerando o custo total de R$ 33 bilhões, tempo de construção de dez anos, e energia vendida a R$ 65 Mwh, Belo Monte teria um VPL negativo de quase US$ 7 bilhões.
Riscos para a reputação
Além das questões financeiras diretas, as empresas e instituições parceiras do projeto já enfrentam ações da sociedade civil na Justiça. Até o momento, organizações da sociedade civil e o Ministério Público Federal já entraram na Justiça com nove ações diferentes, questionando as ilegalidades da obra e do processo de licenciamento ambiental.
Vale destacar também, que as empresas e instituições financeiras que vierem a participar do projeto também correm riscos de reputação. Por ser um projeto que enfrenta resistência da sociedade e de povos indígenas, e que causa sérios impactos no meio ambiente, Belo Monte pode causar danos irreparáveis à imagem de uma empresa ou instituição.
O relatório foi enviado para mais de 20 empresas, entre instituições financeiras, fundos de pensão e empresas relacionadas ao projeto, é assinado por quatro pesquisadores: Zachary Hurwitz, Brent Millikan, Telma Monteiro e Roland Widmer, e contou com a revisão de outros seis pesquisadores. Na quinta-feira (23), às 16hs, dois dos autores (Brent Millikan e Telma Monteiro) participaram de um chat no site do Movimento Xingu Vivo para Sempre (www.xinguvivo.org.br) para explicar detalhes do estudo.
Leia o relatório na íntegra: Mega-projeto, Mega-riscos: Análise de Riscos para Investidores no Complexo Hidrelétrico Belo Monte
(Eco-Finanças, Amazonia.org.br, 23/12/2010)