Representantes camponeses da União Nacional dos Camponeses (Unac) estiveram no Estado para dar continuidade ao intercâmbio iniciado por ativistas brasileiros para atestar que o “selo verde” FSC, utilizado nos monocultivos de eucalipto, na prática, certifica o não certificável. Aqui, eles constataram 40 anos de impactos sobre o meio ambiente e comunidades tradicionais.
O objetivo, desta vez, foi alertar as comunidades e as empresas de Niassa, em Moçambique, para o fato de que é utilizado em um plantio baseado na degradação ambiental e social.
A estas comunidades, os ativistas afirmaram que o que viram aqui foi um impacto nefasto que inclui fontes de água que secaram, a expulsão de famílias camponesas do campo, falta de terras para quem resistiu à expansão da monocultura do eucalipto e impactos na segurança e soberania alimentar, sobretudo das mulheres.
A informação é que o site do FSC (Forest Stewardship Council - Conselho de Manejo Florestal) anunciou que a empresa Chikweti Forests of Niassa, instalada na província de Niassa, norte de Moçambique, está buscando o selo verde do FSC para uma plantação de 33.916 ha de monocultura de árvores. Segundo as informações, uma pré-avaliação da certificação teria sido realizada em novembro de 2010 e a avaliação principal estaria prevista para fevereiro/março de 2011.
“Como em Moçambique, no Brasil também as empresas prometeram muito emprego, mas depois que se instalarem, poucos trabalhadores das comunidades conseguiram emprego e em más condições. Por outro lado, as experiências de agricultura camponesa visitadas mostraram como a forma camponesa de trabalhar com a terra gera muito mais emprego e renda, preserva o meio ambiente e mantêm as famílias no campo”, informou a ONG WRM.
Entretanto, em Nissaa as empresas estão seguindo o mesmo caminho traçado no Brasil, sobretudo em relação à situação das famílias camponesas. E, para isso, estão buscando legitimar sua atuação com o selo verde da FSC, duramente criticado no Brasil.
O interesse destas empresas se deve ao fato de Niassa ser a maior província de Moçambique, dispondo de terras planas e férteis e com uma população relativamente pequena (1 milhão de pessoas, das quais cerca de 80% vivem no campo). Desde 2007, quando as empresas começaram a plantar árvores, a principal organização camponesa de Moçambique, a União Nacional de Camponeses (Unac) tem alertado sobre o fato de que as empresas estão plantando eucalipto em terras que pertencem às comunidades camponesas, reduzindo o acesso das mesmas às terras férteis.
Assim como no Espírito Santo, um relatório da Embaixada da Suécia afirma que em Niassa as comunidades não foram ouvidas sobre a implantação desta cultura na região e que as mesmas reclamam sobre as más condições de trabalho oferecidas pelas empresas de pinus e eucalipto.
Segundo os ativistas, a certificação pelos princípios e critérios do Conselho de Manejo Florestal (FSC) “têm exatamente deixado de consultar e ouvir as comunidades impactadas pelas monoculturas de árvores, tendo beneficiado as empresas plantadoras de eucalipto e pinus. São exatamente essas empresas que contratam as consultorias que farão a certificação, sendo uma relação (financeira) que praticamente implica na concessão do certificado. Ao nosso ver, por este e outros motivos, o FSC tem permitido, de forma irresponsável, a certificação de centenas de milhares de hectares de monoculturas de eucalipto e pinus empresariais no mundo, declarando essas plantacões incorretamente de “socialmente justas, ambientalmente adequadas e economicamente viáveis”.
O exemplo capixaba, ressaltam os ativistas, mostra sobretudo que uma monocultura de árvores, seja ela de eucalipto, de pinus ou de outra espécie, não traz benefícios para as comunidades. Ao contrário, causa impactos negativos como está ocorrendo também em Niassa.
A luta, ressalta a WRM, é para impedir que a FSC certifique também em NIassa o que não é certificável. A empresa certificadora do FSC é a Soil Association Woodmark, uma empresa com sede no Reino Unido.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 23/12/2010)