O empréstimo de R$ 2,73 bilhões do BNDES para a Suzano Papel e Celulose pode significar a entrada da instituição de fomento no bloco de controle da companhia. O presidente da Suzano, Antonio Maciel Neto, afirmou ontem que a empresa deve firmar um acordo de acionistas com a BNDESPar, o braço de participações do banco, que terá direito a veto em algumas decisões.
Segundo Maciel, a operação é prova do papel estratégico do setor de celulose para o banco. O financiamento tem o objetivo de viabilizar a construção de uma fábrica com capacidade de produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose ao ano no Maranhão até o primeiro semestre de 2013 - o custo do projeto é estimado em quase R$ 5 bilhões. A empresa planeja outra unidade de igual capacidade no Piauí em 2014.
Com a conclusão dos dois investimentos, segundo analistas, a Suzano se tornaria a segunda maior produtora mundial de celulose, com capacidade de 4,7 milhões de toneladas ao ano. É quase o triplo da produção atual, de 1,7 milhão de toneladas.
As tratativas que culminaram com a entrada da BNDESPar no rol de acionistas da Suzano começaram em 2008, antes da crise financeira. A Suzano ainda não informou qual será a exata participação da BNDESPar em sua estrutura.
Influência. O BNDES já é sócio da Fibria, fruto da união de Aracruz e VCP e líder na produção de celulose no País, com capacidade de 5,3 milhões de toneladas ao ano. Agora, entra na segunda colocada no mercado nacional, a Suzano. O banco também considera um empréstimo de R$ 3 bilhões para o projeto de celulose Eldorado, da família Batista, do JBS, grupo que já recebeu mais de R$ 8 bilhões da instituição.
Entretanto, para liberar o dinheiro, exigiu a união de negócios da Eldorado com a empresa de reflorestamento Florestal. Assim, o negócio seria verticalizado, com toda a cadeia de produção - do plantio das florestas à fabricação de celulose - sob um mesmo "guarda-chuva".
Apesar de o banco estar presente nas líderes do mercado de celulose no País, o analista Pedro Galdi, da SLW, afirma que as operações devem ser consideradas de forma separada: ele diz que a Fibria, por causa de seu alto endividamento, precisou de um socorro financeiro, enquanto a Suzano tem estrutura de capital mais sólida.
Para o analista Leonardo Alves, da Link Investimentos, a operação é positiva para a empresa. "A Suzano tinha dúvidas sobre como levantar o capital. Acabou no BNDES, uma fonte barata, o que aumenta as chances de o projeto sair do papel."
Segundo o economista Sérgio Lazzarini, professor da escola de negócios Insper, uma questão a ser analisada é a importância relativa do projeto da Suzano para o País, em comparação com obras de infraestrutura e saneamento básico, por exemplo.
(Por André Magnabosco e Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo, 22/12/2010)