A pesquisadora Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, da Universidade Federal de São Carlos, alerta que o uso de agrotóxicos pode ser extremamente prejudicial para os polinizadores. A depender do pesticida, apenas 81 nanogramas são suficientes para matar uma abelha.
Para ela a aplicação dos pesticidas nas propriedades precisa obedecer, de forma rigorosa, as quantidades especificadas nos rótulos dos produtos. Além disso, os agricultores devem respeitar o horário de visitação dos insetos polinizadores nas culturas e não aplicar os insumos no final da tarde e início da noite.
Roberta ainda defende a revisão da lei que regula a liberação de produtos químicos para o mercado. Atualmente, todo agrotóxico para ser liberado precisa ter avaliado o seu efeito em abelha. “Acontece que esse teste é feito somente com um tipo deste inseto. O ideal é que ele seja realizado com outras espécies, inclusive com abelhas nativas”, explica.
Práticas culturais
De acordo com a bióloga Márcia de Fátima Ribeiro, pesquisadora da Embrapa Semiárido, os manejos das áreas agrícolas precisam se valer de práticas culturais que favoreçam a presença e permanência desses insetos nas áreas de plantios.
A agricultura moderna voltada para maximizar os índices de produtividade se vale de técnicas que afetam de forma muito negativa a população de polinizadores nativos, em especial as abelhas. Por esse motivo, em muitas propriedades os agricultores são obrigados a recorrer à polinização artificial, a exemplo da manual, o que eleva os custos de produção.
Para a bióloga da Embrapa Semiárido, o que fica evidente mesmo para segmentos do negócio agrícola mais competitivo é que a ação benéfica dos polinizadores não pode ser descartada. As abelhas, por exemplo, contribuem “significativamente” para incrementar os índices de produtividade de várias culturas agrícolas de importância econômica.
Conservar
A conservação dos habitats naturais desses insetos nas áreas próximas dos cultivos e o uso de boas práticas agrícolas são fundamentais para preservar a diversidade dos que polinizam as plantas. Uma das melhores medidas que podem ser adotadas pelos agricultores é a aplicação controlada de defensivos químicos e o manejo da paisagem, de modo a manter suas bordas com vegetação nativa local que fornece recursos aos polinizadores.
Geração de renda
As abelhas, além de serem estratégicas para aumentar a produção agrícola, podem ser uma sustentável fonte de renda para quem vive na caatinga. Alexandre Torres, morador de Ouricuri, cidade do sertão pernambucano, quer esse bioma preservado, pois há 22 anos tira do mel que vem das folhas dessa vegetação sua principal fonte de renda. Com 500 colméias, ele chega a faturar 40 mil reais por ano.
“As abelhas foram o que me fixaram no campo”, revelou Alexandre. O apicultor que também participou da Semana de Polinizadores, o evento foi “uma ótima oportunidade para aprender mais sobre o apaixonante mundo das abelhas”.
No Território do sertão do São Francisco, somente em Campo Alegre de Lourdes são produzidas 600 toneladas de mel por ano, de acordo com dados encaminhados ao Sebrae de Juazeiro pelos próprios apicultores do município.
(Por João Marques, Embrapa Semiárido, EcoDebate, 21/12/2010)