O fim do ano na Europa, Canadá e Estados Unidos está sendo marcado pelas enormes filas nos aeroportos e nas estações de trem, com muita gente não conseguindo viajar nessa época de festas e férias. Isso por causa das intensas nevascas que atingiram essas regiões nos últimos dias e estão provocando cancelamentos de vôos.
Para piorar, segundo serviços meteorológicos esse quadro deve se prolongar, pois a previsão é que o atual inverno seja o mais severo no hemisfério norte desde 1963.
Diante disso, não demorou muito para que diversos grupos que negam o aquecimento global se manifestassem. Artigos com títulos espirituosos como “Um Inconveniente Frio Profundo ” proliferam na internet.
Isso quer dizer então, que toda a comoção ao redor da Conferência do Clima (COP16) em Cancún não passou de uma armação e que as tão temidas mudanças climáticas são na verdade uma fraude?
Quem responde que não é a ciência.
A NASA divulgou na semana passada uma nova análise utilizando dados de 6300 estações meteorológicas e demonstrou que não há dúvidas de que o planeta está aquecendo.
Já com relação ao inverno severo no hemisfério norte, a resposta pode estar no degelo do Ártico. É o que acreditam cientistas do Instituto Potsdam para Pesquisas de Impactos Climáticos da Alemanha.
Em um estudo publicado em novembro no Journal of Geophysical Research, os pesquisadores relacionam o baixo nível de gelo flutuante no mar ao norte da Noruega e Rússia com a probabilidade de invernos mais rigorosos.
A teoria defendida por Vladimir Petoukhov, principal autor do estudo, é de que o desaparecimento do gelo flutuante é resultado de um oceano mais aquecido, que por sua vez aumenta a temperatura na baixa atmosfera criando anomalias na circulação do ar. Dessa forma, o ar congelante do Ártico seria empurrado para a Europa e causaria as nevascas.
Essa lógica já teria sido observada no inverno de 2005-2006, um dos mais rigorosos registrados no continente europeu. “Os níveis do gelo deste ano estão quase tão baixos quanto os daquela temporada”, alertou o pesquisador.
Petoukhov explica que é difícil separar todos os fatores que contribuem para a formação do clima, mas considera o desaparecimento do gelo flutuante um dos principais sinais de que as ondas de frio serão intensas este ano.
“Diferentes fatores contribuem para a força das nevascas, mas só no fim de dezembro que teremos mais clareza sobre qual a real importância do degelo”, disse Petoukhov.
As pessoas tendem a associar o aquecimento global apenas com o calor, sendo que na realidade ele significa que a temperatura média do planeta é que irá subir. O que, segundo pesquisadores, vai aumentar a frequência e a intensidade de fenômenos climáticos extremos, como as nevascas.
É esperada a confirmação pela Organização Meteorológica Mundial de que 2010 seja o ano mais quente desde 1880. Mesmo se dezembro for um mês extremamente gelado, 2010 deverá permanecer entre os cinco anos mais quentes já registrados.
(Por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais, 21/12/2010)